quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

   As coisas têm evoluído de maneira que... bem...

   Algum resultado na reconfiguração dos meus sentimentos eu obtive pela insistência da análise. A saber, talvez a insistência sobre uma síntese (no sentido Kantiano de juízo sintético) a respeito do meu apego à Koshka, que o situa como um engano pelo qual eu tenho responsabilidade parcial. Pelo que desisti de me enganar (supor que Koshka pudesse ser Φ -- uma espécie de complemento de tudo o que me falta), mas não preciso desistir de gozar daquilo que me é oferecido com tanta gentileza e carinho (ou seja, de a, alguém que materializa parte disso que me excede).

   No meu desamor, talvez uma dificuldade de enxergar adequadamente essa exceção... ou talvez porque o outro não se coloque nessa posição (e não é possível, nem a mim e nem a esse outro, ter certeza -- e, na verdade, nem a ninguém, resguardadas as proporções). Talvez alguma coisa possa ser feita a esse respeito... talvez, se uma parte de imaginário faz parecer que não há Outro nesse outro, esse imaginário possa ser substituído...? Talvez seja preciso que alguma coisa venha desde o outro lado (A)... posso acreditar que tenho algo a fazer aqui sem me enganar para além do que já estou enganado? Talvez seja mesmo me questionar, por enquanto, sobre o que seja isso que me impede de gozar dessa maneira sublime que é o contato com o segredo de uma Outra sensibilidade (e isso me faz imaginar ao menos uma situação em que, na verdade, isso é mentira - quero dizer, o juízo sobre esse "impedimento" não vale).

    Sinto que ainda há uma espécie de deslizamento para "Φ Koshka", como se as imagens atuais de outras situações de carinho escorressem para lembranças desse objeto. É um processo metafórico, no sentido que parece impedir minha metonímia de seguir seu caminho ao redor desse buraco que é o desejo (-Φ).

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Reflexão sobre o que seria a relação com um Outro.

   Renascemos das cinzas.

   Volto a escrever porque sou obrigado - eis uma das sensações que provocam esse título. Uma noite ao lado de alguém que tanto ocupou esse espaço "a" (de objeto a) em nosso fantasma nos fez sonhar com uma outra pessoa (que ocupou esse espaço igualmente bem, pelo que ainda nos resta desse sonho nas entranhas). De fato, esses pequenos outros parecem falsificar ou simplesmente ilustrar aquilo de que "realmente" se trata. Assim, talvez, como falar de um grande Outro é falsificar aquilo de que realmente se trata ($, ou seja, nós mesmos, mas não esses que pensamos que somos, a imagem sempre distorcida que temos de nós, ou seja a').

    Dar conta teoricamente de meus problemas tem me afastado de dar conta deles.

    Sonhei. Um beijo no pescoço é um gesto encantador. Inclusive para se retribuir.
    Também uma beijoca nos lábios. Aquela do reconhecimento... do bonito reconhecimento que recebi anteriormente, que me deu mesmo essa sensação de beijoca - que é, com certeza, uma erotização da coisa, mas enfim. São mesmo essas pessoas que ocuparam esse lugar a no fantasma, que ultimamente estiveram me reconhecendo também um pouco nessa posição a, pelas quais me sinto muito confortável no a' (vivendo essa ilusão de mim mesmo). Essas pessoas é que aparecem (ao meu lado e no sonho), me fazem sentir essa sensação tão gostosa, essa tensão que nunca sara com a beijoca no pescoço do sonho ou o reconhecimento no cotidiano, e que parece mostrar onde eu gostaria de estar, ou o que é fundamentalmente S1 (o desejo do desejo do Outro), e demonstrar, pela cinematografia onírica, por que (ou melhor, pelo que) estou sempre em dívida: é pela beijoca no pescoço.

    Agradecimentos ao meu analista.

domingo, 7 de agosto de 2016

Potência e limites do que seja a subjetividade

    Obs.: tentar lembrar de por que escolhemos esse título... era sobre o tema que apontamos com a flecha logo abaixo. Ele parece se dividir nessas duas questões: qual a potência da afirmação da subjetividade? Quais seus limites? Para nós (é preciso explicar rapidamente): uma afirmação de subjetividade não pode ocorrer para além da descontinuidade da realidade no que ela é atravessada pela normatividade vital (bios); assim, toda subjetividade é plenamente sujeitada às contingências, sem estar, ela própria, excluída de maneira alguma dessas mesmas contingências. E parece que seu efeito "subjetivo" é justamente uma apreensão "consciente" de que sua normatividade está incluída na determinação do real.

    Este texto continua o Espelho Cristalino e não os meus esforços para constituir uma Genealogia do Amor. A quem deseja saber desta segunda, restará portanto aguardar nosso próximo texto. Sobre ela, entretanto, quero pedir paciência a quem nos lê: primeiro, pelo que eu já disse (porque não será desta vez que se poderá ler sua continuidade); segundo, porque retoma inúmeros textos, sem necessariamente concordar com eles e, na verdade, discordando profundamente da maioria; terceiro, por constituir-se, sobretudo, numa revisão das reflexões de um amante amargurado sobre seus sofrimentos (mais do que numa pesquisa que procure fazer sentido para algum "público geral").

    Mas a anotação que neste texto eu pretendia era a seguinte:

    => O tema subjacente à maioria de minhas reflexões tem sido, sem que eu o perceba, a posição do paciente de qualquer clínica, assim como a posição da subjetividade diante de qualquer norma. Preciso empreender uma longa reflexão a respeito da natureza da liberdade, e a bibliografia brota como lava fervente nos meus pensamentos: Walden II e o texto teórico skinneriano cujo nome não recordo e que trata da liberdade; O Nascimento da Clínica (Foucault); textos do socialismo libertário latinoamericano sobre o que sejam a liberdade, a rebeldia, a individualidade, a subjetividade; Os dois primeiros seminários de Lacan...

   No interior das reflexões técnicas que toda vez me assolam, surge sempre a relação liberdade-norma, quase como se fosse espontaneidade-norma, quase como uma fenda onde minha reflexão critica mas não consegue superar o medo, a tradição, o instituído.

   Preciso lembrar de seguir por esse caminho. Também tenho que lembrar do vínculo disso com uma pesquisa que estamos construindo, uma ideia de artigo que tivemos [refletir sobre a função desse artigo], e lembrar de utilizar a Ferramenta de Reflexão NSP a/b [também lembrar de adicionar essa Ferramenta à nossa página de Maquinaria Rebelde]. A hipomania confunde-se com a compulsão e sabemos que é hora de dar tchau.

   Abraçocaas. <3

   PS.: também preciso recordar de considerar minha implicação enquanto paciente (de análise), militante-paciente (de SUS e de Besta) e militante nessas questões (posição do paciente, posição de sujeição/subjetivação em relação à norma, etc.)

domingo, 31 de julho de 2016

Notícias de mim e primeiros investimentos de uma Genealogia do Amor.

   A quem possa interessar, digo que estou bem e continuo pulsante, cheio de vida. Também que, até agora, sinto apenas uma sutil saudade da pessoa que se afastou há alguns dias... é como se ela não quisesse vir toda de uma vez... a certeza de que retornará, de qualquer forma, me acalma, e dormir imaginando sua presença, sabendo que ela virá, tem a ver mais com um delicioso conforto do que com uma saudade desesperada.

   Já foram tantos textos sobre amor por aqui que hesitamos em falar disso novamente. Desejamos, porém, atualizar o assunto através de nossas experiências recentes e, também, com uma certa retrospectiva. Abri todos os textos nossos que achei que falam de amor: são 15 textos, cuja relevância precisarei rever e que aqui me limitarei a listar, construindo uma sinopse com base em breves leituras e lembranças.

   Dîn: partes I, II e III. Escritas por Romeu, em sua linguagem esquisita (que é parcialmente explicada e traduzida num dicionário que podeis encontrar na barra superior deste blog). Tratam o amor como união e desejo pelo bem do outro.

   http://notchifeliz.blogspot.com.br/2012/06/din-parte-i-shakespeare-morto-romeu.html
   http://notchifeliz.blogspot.com.br/2012/07/din-parte-ii.html
   http://notchifeliz.blogspot.com.br/2012/07/din-parte-iii-humanos.html

   O Grande Coração. Parece comunicar um desejo por novos objetos e formas de amar. Reclama da repetição do amor por Idîn.

    http://notchifeliz.blogspot.com.br/2013/11/o-grande-coracao.html

    Romeu Morto. Abre mão da denominação anterior, "Romeu", e passa a chamar a drugui Idîn de Koshka, esperando que essa alteração lhe traga novos amores. Abre mão de uma "fixação do amor num conceito filosófico fechado e vetor de uma teleologia" (sic.). Deixa-o impreciso, porém "no campo do sentimento".

    http://notchifeliz.blogspot.com.br/2013/12/romeu-morto.html

    Anti-amor, desejo. Desiste-se da palavra "amor" por tudo de conservador que a ela está associado. Elege o anti-amor como representante desse movimento e o desejo como nova forma de dizer de algo que sente sem encapsulá-lo na palavra.

    http://notchifeliz.blogspot.com.br/2014/02/anti-amor-desejo.html

    (CONTINUA)

http://notchifeliz.blogspot.com.br/2012/11/emersao-raiva-e-amor.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2014/03/boletim-de-reapripriacao.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2014/03/nao-havera-desposo.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2014/08/abolicao-do-objeto-de-desejo.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2014/10/de-amor-como-falar-depois-de-tudo-tanto.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2016/06/uma-primeira-nota-de-apaixonamento.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2016/06/uma-segunda-nota-de-apaixonamento.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2016/06/uma-anotacao-neste-dia-de-apaixonamento.html
http://notchifeliz.blogspot.com.br/2016/06/nota-numero-quatro.html

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Espelho cristalino,
Veneno da coragem

    Do Romeu ao Lobo, este blog foi tentativa de criação com a vida para além da reprodução do já dado. Embora tenha beirado à desistência, este espaço do cybermundo-imundo, como o chamamos há tanto tempo, destinava-se, de alguma forma, à produção de alguma forma libertária de subjetividade.

    A psicologia desvirtua. A psicopatologia, em especial, aniquila: que as formas de subjetividade que mais me deram saúde sejam hoje, por minha própria mente, associadas a estados de mania ou hipomania é um quadro duro e trágico. Que os usos de saber possam envenenar a vida, parece um aprendizado simples e útil embora, convenhamos, digno do status quo em ciências humanas.

    Quanto foi libertário o uso intransigente do discurso reichiano? E quando foi libertário o uso intransigente do discurso científico? Um excesso da crítica epistemologicamente fundada parece atravancar a vida... algo da ordem da obsessão parece tomar o lugar da experiência. Que faremos? Todos os nós, nesta assembleia (os convoco: Jeisu, Rûs, Romeu, Lilá, quem vier, máquinas errantes de um Infra-Ego...) lembram que algo único parece brotar da experiência do enfrentamento radical. Isso queremos reativar: ideal forte de coragem orientada pelo que houver em nossas mãos, em nossos corações.
     E nosso principal problema parece ser a dependência de um outro para empreender tal tarefa... dúvidas mil nos surgem... teremos finalmente destruído nossa neurose? Estaremos flutuando ao sabor do desejo do Outro? Não se trata disso, argumento eu. Nossa tarefa é dolorosa e que precisemos de ajuda parece-nos antes um traço de humanidade.

    Que viva o Espelho Cristalino do Infra-Ego.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Epitáfio de um calendário;

    Volto às nossas músicas e tudo é a óbvia solidão que só me resta elaborar. Apesar de tudo, fico feliz por ter recebido alguma notícia, porque um gelo não combinaria nada com este frio - doeria ainda mais do que a saudade. Espero do fundo mais profundo do coração que fique tudo bem, e que a distância seja realmente reparadora...

     Sepulto em algumas lágrimas o calendário desta semana.
     É preciso evitar o drama neste texto que, entretanto, é um desabafo. Não sei se posso.

     Neste dia de olhares tão profundos, de desejos... de planos... não consigo deixar de sentir que fui desatento, que eu deveria ter percebido o que estava acontecendo, que meus abraços deveriam ter sido mais apertados, que isso que perturba poderia, talvez, ter sido dissolvido em mais carinhos... Mas não posso me culpar, nem desejo isso. E sobretudo, imagino que ninguém deseje isso.

     As tarefas de amanhã ficaram subitamente tão pesadas que não quero pensar nelas, embora talvez precise. Eu estava dobrando sem perceber? Todo em direção a esse desejo, exceto naquilo que o calendário (mal) impedia? Não entendo muita coisa, mas vai ficar tudo bem, é o que creio.

    Muitos, muitos abraços e beijos, pra que tudo fique bem mesmo.

    Ps.: aquela bandeira que vimos não é a da Inglaterra mesmo, é a da Islândia. O nome desse país em inglês é Iceland, que é como se fosse "terra do gelo" (então as pessoas do clipe não deviam mesmo estar fingindo o frio). Descobri que Sigur Ros é traduzido como "Victory Rose", o que pode querer dizer "a vitória levantou-se" ou "rosa da vitória".

sábado, 18 de junho de 2016

O pesadelo sob a pele.

    De fato, encontrar-me tem seus momentos de dar de cara com um pesadelo. É o que eu sinto ao me encontrar, é o que imagino que todos sentirão, em algum momento. A exclusão do desejo do Outro, de fato, é a exclusão de vosso desejo em algum momento. Confirma-se um conhecimento sobre aquilo que endereço ao desconhecido --- justamente, esse falo que recuso-me insistentemente a ser, esse falo inexplicado que parece que eu deveria presumir, conhecer, esse enigma do que tu queres, que reaparece e que conjugo politicamente, mas que por fim recai em minha própria inabilidade de reconhecer a minúcia do teu desejo. Algo tão simples como "otods luseeparr lauganm ocsia ed mu sabbath-notchi". Difícil de digerir que eu tenha sido tão desatento, insensível... que eu não tenha compreendido a extensão dos significantes que vieram.
     Mas acho que posso ser perdoado. Creio mesmo que minha tristeza seja uma tempestade em copo d'água, que não devo presumir coisas que não me foram ditas, e que seria injusto não confiar na sinceridade que me dedicam.
      Assim estou mais calmo, porque confio nessas palavras.
      Peço desculpas pelo desabafo fora de hora e cheio de desrazões de toda ordem.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Hoje e esta noite.

    Hoje alguém me disse que estava "transbordando" alguma coisa. Como essa expressão agora me apaixona... então eu comentei: "ai, essa palavra é linda", e todos ao redor sorriram. Mas ninguém sabia como é estar com ela, ela transbordando. "Transbordando de novo",  tom de voz doce, ar impressionado. Eu estava impressionado.
    Este texto não dará conta da saudade, coisa triste... nem imagino como farei para chegar à ocupa. Nem imagino como farei para dormir com essa saudade. Nem amanhã, para atender com saudade.
    Eu queria que ela mandasse um "oi" virtual e dissesse como está... já não há tempo para tanto.
    Tá difícil.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Nota número quatro.

    Esta noite será especialmente fria. Espero que o teu cheiro no travesseiro dê conta de trazer-te aos meus sonhos.
    Pensei em toda a saudade, no amor que me tens dedicado. Pensei no que sinto, nos desafios da reciprocidade, em toda a saudade que me deixaste. Lembrei da foto enviada por tua anarco-colega de quarto.

    Chorei.
    Boa noite, pessoa linda.

sábado, 11 de junho de 2016

Uma anotação neste dia de apaixonamento.

    Eis portanto o dia que decretamos ser o dos apaixonados, não sem receio, substituindo o que não somos pelo que sentimos. À música da Tulipa Ruiz que ouvimos juntas, devo responder com seu próprio título ("Só sei dançar com você") --- as outras músicas desse álbum agora pareciam ecoar e ocupar precisamente a parte do pensamento que eu precisava livre para concentrar-me.
    Mas agora senti que do vazio por elas deixado não surgiu o que eu queria escrever. Fiquei pensando "o que seria...?"
    Posso escrever minha vontade de encher de carinhos a minha querida companheira de cafés, neste momento tão frio da madrugada... e eis o não-sono, que sentimos tantas vezes, e que só pude abandonar em nome de minhas Outras tarefas. O sono, disse meu professor Manoel, é um momento de parar de gozar --- o que, apesar de nada surpreendente, é importante do ponto de vista simbólico: dormir é mesmo deixar o corpo descansar dos seus afazeres; não passivamente, como um tanque enche-se de gasolina, mas sim pelo aval visceral que é necessário para que um corpo humano deixe-se descansar. Para dormir, é preciso, de alguma forma, dizer: "eu não quero mais gozar" --- ou, até mesmo, "eu posso não gozar".
    Chegamos em casa após o absurdo de gozos que foi o show da banda Surra (e outras bandas). Sobre isso devo parabenizar a todos os envolvidos e as envolvidas, e talvez principalmente a quem arremessava-se com tanta convicção sobre os corpos, imergindo desde o palco. Mas o que quero dizer é que, como em nossas noites de não-dormir, chego agora ao embate entre o descanso e a vontade de seguir acariciando-lhe as costas, enchendo cada centímetro de sua pele dos meus melhores mimos, e falando o que quer que seja desta vontade, baixinho, em seus ouvidos; ou, de cabeça vazia, olhar em seus olhos, só conseguindo sorrir em silêncio...
      Beijocas em você, querida companheira de café, caso leias este texto, pois deixá-las aqui guardadas é meu requisito para poder, em seguida, deixar cair meu corpo na cama. O sono me levará --- em suas próprias imagens ou pela energia que terei amanhã --- a encontrar-te novamente, pra que realizemos alguns dos motivos que, no fim das contas, nos salvam de simplesmente nos deixar dormir, eternamente.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Uma segunda nota de apaixonamento.

    Agora é um sentimento que preciso registrar para conseguir prosseguir com as tarefas. É que saí do meu sistema habitual... não é o mesmo tipo de desejo que me tem movido. Alguma coisa dessa segunda ordem desejante me faz sentir que, finalmente, estou sendo deslocado pela via mais crua do querer. As tarefas, às quais pertencem ao sistema "de sempre", ficam em segundo plano, porque parecem decorrer de um processo de construção de sentido mais complexo, mais amplo, talvez fruto de processos primários de meta inibida... o que importa?
    De fato, pensar em processo primário é nebuloso e pouco parcimonioso. Estou, digamos, em um momento de esquemas de comportamentos predominantemente controlados por reforçadores positivos amplamente generalizados relacionados à minha querida companheira de cafés. Imaginei então que o que costuma me mover é o reforçamento negativo. . . uma compulsão negativamente reforçada pelo alívio do excesso de racionalizações autocríticas, e positivamente pelos ciclos de comportamentos compulsivos?
     Um texto nada romântico e que diz, talvez, muita burrice.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Uma primeira nota de apaixonamento:

    Às vezes algumas coisas acontecem tão inesperadamente que a gente fica impressionada. Como isso: nós dois, implicados na ida para o Encontro no qual não fomos... os papos que daí resultaram... mil cumprimentos que eu não vi, "ois" solitários, como os deixei flutuar por tanto tempo, puramente por desatenção. E algum ímpeto que ela teve - pelo qual, de fato, já lhe agradeci pessoalmente - de fazer seus ois valerem depois de tudo. Diante dos Lanceiros Negros e dos porcos, uma oficina de assovio e meu desempenho nada apaixonante. Uma conversa pode ser iniciada com: "e aí, assoviando muito?"

   Um convite para um café no seu quarto; esse é o convite mais fofo do mundo, não susteeeento.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Nos Fascina.

    Que estejais dormindo ou acordados fazendo sexo enquanto enlouqueço
    Escrevendo poemas e ouvindo aquelas velhas canções ou vossos gemidos e pensando
    Algum desejo tão forte que beira o delírio de grandeza, eu digo, não é falta de simbolização,
    Vede como escrevo como vosso Messias sem o ser,
    Vede como a imaginação ali permanece;
    Se desejarmos demais, percebemos, teremos de provar nossa sanidade...
    Saibam, contudo, que sabemos com angústia que não sabemos o quanto, de fato, não sabemos,
    Que, angustiados nos divãs, nos perguntamos;
    E agradecemos, desde já, por vossa outorga;
    [Neurose]
   
    Retomamos: que estejais dormindo ou gemendo, como estivemos também tantas vezes convosco,
    Que assim estejam enquanto enlouquecemos, em busca de respostas para nossas inquietações desoladoras: nos fascina. 
    Nosso desejo é que essa cena toda seja vista e tratada com a honra que merecemos por nossa jornada noturna em livros e questionamentos.
    Morremos nessa presunção.
    Que vivamos, porém, da sinceridade de acreditar.

sábado, 23 de abril de 2016

Política de micropropaganda

Para fins de aproveitamento energético e dos vínculos sociais para propaganda, propõe-se:

    a) Uma política de propaganda que valoriza as conexões de nível "amigo" e "amigo de amigo";
   
    b) Que a política em questão exclui do escopo de discussão os grupos de debate intransigente, generalizado e caótico (debate improdutivo).

         Inversamente entende-se como produtivo o debate em cujo processo são detectáveis sinais de  
    reposicionamento de quem debate --- complexificação e dialética entre os argumentos.
   
    c) Evitar, de nossa parte, reduções cognitivas.
   

    d) Trabalhar com uma política de recompensa social constante pelo debate, mas com argumentos sólidos cuja eficácia, esteja claro, deva ser levada a sério.
   

    e) Utilizar os argumentos que produzam menor dissonância cognitiva possível no outro;

  Propõe-se também, para tanto, abandonar debates em que a eficácia dos argumentos seja sistematicamente ignorada, mesmo com recompensas e tentativas de reparação de possíveis dissonâncias cognitivas.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Alguma consistência

   E engraçado, porque temos postado só seriedades;

   E delas temos vivido, ou melhor, entre nossa capacidade de assim viver e nossa incapacidade: o lixo que produzimos por tentar; lixo comportamental, sobretudo.

   Olhaste pra mim às portas do império mais vil. Que dizia o teu olhar? Não soube. Senti que te conhecia. Quase parei para cumprimentar-te. De fato esbocei esse gesto e sinto que esboçavas reação. Ah. Dona de ti mesma, do teu destino, de tuas decisões, eu humildemente peço: olha-me assim novamente se nos virmos outra vez. Deixa-me reviver esse encontro tão belo ou angustiar-me por desconcluir novamente nosso cumprimento!

sábado, 2 de abril de 2016

Desejo de rigor.

    Tenho sentido a necessidade de colocar algumas balizas no pensamento. Estabelecer com a realidade uma relação mais digna do meu posicionamento em relação à vida. Rapidamente, dou-vos alguma noção deste último: digo a) que a ele me conecto a partir, principalmente, de inibições e de uma ou mais fixações, que sinto principalmente num desejo de supercompensação (o qual desloco, entretanto, com este tipo de racionalização); b) que o tenho buscado incluir em melhor metáfora, com algumas palavras de poetas que admiro, que dizem que a vida "é um presente para ser vivido e amado"¹; pensando minha condição, traduzi livremente: a finitude  que estabelece o valor da minha vida é a mais difícil de ser medida, assim como o investimento múltiplo que a constitui enquanto potência. Os próximos dias que provavelmente viverei, os próximos anos sobre os quais não tenho segurança alguma, e a segurança que pretendo, derivada das condições que vejo necessárias para meus projetos... Acabo concluindo que cada segundo vale pelo "não-mensurável" de sua finitude. Respiro cada vez como se fosse a última. E tento fazer de minhas respirações, dos percalços com que preencho, a cada instante, meu possível último instante, atualizações cuidadosas com o projeto (ou, melhor, com a potência) e atentas para a finitude.
    Inclinado a pedir perdão pelo que pode parecer um devaneio, digo que essa metáfora hiperabrangente pela qual posiciono racionalmente minha vida tem tudo a ver com o desejo de rigor que aqui descrevo. Trata-se, ao que me parece, da mesma coisa: fazer a vida valer em sua potência e em sua finitude, fazer as ferramentas de que dispomos servirem, o máximo possível, a essa vida (que pode acabar em 3,2,1 --- levando tudo o que aprendemos, sentimos, pensamos, para ...? Talvez "bem longe", como na metáfora infantil). Dito isso, penso ter justificado a existência de algum tipo de rigor, mesmo que seja o da "intensidade", alguma coisa como dizer, por exemplo, que um embotamento muito forte tem motivos justos para ser considerado triste --- ou, simplesmente, em algum grau, que ele seja uma derrota da vida, o que para mim é óbvio, inclusive pelo desfecho comum do suicídio.
    Resta, ainda, a tarefa de justificar os meus rigores.

    Em primeiro lugar, meu amor à vida gosta de ser contagioso e acaba estendendo-se a toda forma de vida. Desejo preservar e expandir toda forma de vida e entendo que a inteligência capaz de fazê-lo justifica-se na ética da evolução e na ética humana pelo desejo de conservação. Quanto à liberdade de morrer, creio justificar-me pois, nos casos em que isso torna-se assunto, os desfechos posteriores costumam revelar a subestimação da potência da vida (evidentemente, quando o desfecho não é a morte).
    Em segundo lugar, meu amor à vida gosta de ser contagioso e acaba estendendo-se ao seu "como", e assim, ao sofrimento e às coisas do campo do reforçamento, do prazer, da felicidade, da alegria e mesmo da fortuna. Considero, por isso, a profunda desigualdade de condições que existe neste mundo, especialmente em humanos e mesmo em outros primatas, cuja potência é tão dependente de atualização, um atentado contra a vida (em potência, em conservação). 
     E, assim, creio ter enumerado os principais pontos que estabelecem os argumentos éticos para meu rigor, as "balizas" que mencionei ao início. Na prática, esse rigor estabelece a utilidade do poder de predição, ou a necessidade de compreensões que estabeleçam diálogos úteis --- no sentido dos argumentos colocados --- com a realidade. Em que impasses têm me colocado e, talvez, algum progresso nesse sentido a partir das reflexões deste pequeno pedaço de cybermundoimundo, deixarei para um próximo pedaço a ser constituído.
     Abraços, gente querida que tem lido. Conto com vossas contribuições.

NOTA:
1: ... nesse impulso de beleza, e talvez por tradição (algo, nesse caso, cuja aniquilação é recomendável), brinco com o pensamento freudiano, pensando que esse "amar a vida" pode vir como um narcisismo primário; mas concedo-lhe, quando penso, principalmente as característica daquilo que o Freud pensou como "impulsos de autoconservação do Eu".

domingo, 6 de março de 2016

A volta de Jeisu, o poeta socialista.

   Tenho sentido falta de ter um amigo ou uma amiga com quem eu pudesse tratar dos assuntos que a mim importam.

   Sinto que respeito demais a bolha em que viveis.

    E... bom, talvez estejais apenas a respeitar a minha.

    Jeisu

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Término

   Uma vez mais nos vemos engajados na busca, à qual, aliás, não damos qualquer crédito, e é esta a explicação de nosso sofrimento?

    O problema todo são meus ataques súbitos de paixão do dia a dia? 
    Por minhas falhas, o mais fácil é culpar quem quer que seja (exceto eu). Alguém que desaprovasse algum aspecto da antiga relação pode ser culpado. Pode-se dizer: "ó, como tu queria, finalmente terminamos". Se forem nossos progenitores, podemos culpá-los pelo que somos (isso é ótimo... é absolutamente inútil, exceto para entrar ou permanecer em estado de mania - tudo que não é perfeito no semi-deus que sou, deve-se aos meus pais¹).

    Mas voltemos a eles, os ataques súbitos: independentemente de seu objeto, creio que constituem em comportamentos da associação imaginária entre determinados padrões estéticos e o prazer - este último não necessariamente de forma tão direta: parece agir sobre nós uma cadeia de acontecimentos/comportamentos que conjuga dor e prazer num clima de arte melancólica (qual seja, o amor²).
     Então o grande problema talvez tenha sido uma certa falência dessa cadeia no que diz respeito ao relacionamento que mantivemos? É, foi no que apostamos. A sensação do saco cheio foi um indicador e um motor... injusto, porém, profundamente injusto motor.

    Sabemos muito bem quem controla o senso estético. A educação que me deu a televisão e me diz com que(m) gozar.
    E se ao menos fosse um castelinho que me impedisse de mergulhar nas poças d'água do imaginário que me é proposto... eu tentaria mil vezes mais? Eu culparia a estrutura da relação - "tentemos algo diferente"
    Não era. E quem construiu esse castelo agora martela comigo nas feridas dela.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O RomEU e suas vicissitudes.

   Estudar, há alguns anos, é uma atividade tensa, algo melancólica. É, sobretudo, se estudar, produzir mim mesmo e projeto (atividades que posso, de fato, a partir de uma referência recente, chamar de melancólicas).

   Atribuímos ao Romeu todas as problemáticas. Pelo nome que lhe demos, carregou ele a culpa pelas ilusões a que se sujeita - ou, por correção, as condições que individualizam - todo o sócius. Há em mim esse desamparo freudiano? Se nossa referência associa essa noção à maturação, numa certa redução da ontogênese humana a um padrão monolítico, talvez eu me sinta mais seguro de pensar num desamparo que é saúde - como pensava, vejam só, o Romeu, junto com o Besta e o Farina.

   De fato, era o que procurávamos: o desamparo "freudiano" --- que para nós era reichiano. Tendo posicionado como neurose tudo aquilo que nos impedia de realizar nossos projetos (ideais), transformávamos o cuidado a nós oferecido em questionamentos do preço desse cuidado. Fizemos tudo isso, é preciso logo dizer, com inúmeras ingenuidades. Imagino algumas: um pouco, não percebíamos o pathos de nossos ideais, de nosso método, de nossa doutrina. Outro pouco, só generalizávamos nossa revolução às categorias mais convenientes (mantendo, não sem alguma hipocrisia, nossa dependência do cuidado parental em pontos muito importantes, como, por exemplo, o econômico).

   Dois poucos. Primeiro (e entretanto referente ao segundo pouco) porque, na verdade, tenho bastante certeza de que fizemos algo incrível, no sentido mesmo de inacreditável, pouco provável --- o que, quando se vive uma vida muito atravessada por marcadores de hegemonia, deve ser muito valorizado. E segundo, porque quanto ao pathos de nossos ideais, tenho a impressão de que os mesmos eram tão polivalentes, enquanto aglomerados de teorias e afetações de todos os lados, tão voltados ao tempo presente e à praxis, que não me sinto, pelo menos neste ponto de minha discussão, apto a igualá-los às formas de utopia hegemônicas. O que quer que tenhamos feito, fizemos com conceitos que foram, antes de tudo, máquinas de guerra, fizemos com uma coragem esquisita e que tenho dificuldades de precisar.

    Um terceiro pathos: eu e o Farina fomos, em demasia, subordinados ao Besta - que de fato pretendia ser nosso mestre. E, na medida em que fomos percebendo tal coisa, nossa aliança tornou-se, por isso e por outras coisas, insustentável. E retornei à cidade de Pallet.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Re Tomos

   I

   Pelo dia de ontem e pelo de hoje, pela semana que passou e pelo que passa em minha cabeça há algumas semanas, talvez num certo acúmulo desde o mês passado ou há alguns anos. É por isso que passo a escrever isto e a pensar numa subjetivação que se constrói e desconstrói intencionalmente a partir  ou através de (ou mais precisamente junto a) alguns discursos. Pelo que aconteceu nu verão que separou os anos de 2011 e 2012, igualmente, que, se fosse descrito por extenso, tornaria irônico estar novamente aqui, no interior da Faculdade de Direito. Também porque hoje, ao olhar-me no espelho, no banheiro deste prédio, percebi que estou mais estrábico do que há dois anos atrás. E também porque corrigi momentaneamente o desvio angular de meus olhos por um exercício de intenção.
   Tomar como  problema o desejo e o processo de subjetivação do ser humano contemporâneo é o avanço epistemológico oferecido pela psicanálise. Aprofundar ou reaprofundar esse avanço é trabalho de freudianos como Reich e Lacan. Para além dos problemas que cada ser social (ou devir - dane-se) enxerga ou recorta de si mesmo - a criação alardeada do inconsciente. Para além dos problemas que o status quo é capaz de denunciar em benefício da própria produtividade (reprodução), num processo de franca ruptura ética, tanto com o indivíduo quanto com a organização social hegemônica, a mais ou menos insuspeitada inspiração do infraego. Num potente romance, os corações corajosos de não muitos - ou, quem sabe, de milhares muito silenciosos - entusiastas, uma preocupação com a técnica revolucionária, com a maquinaria que produz e muda a realidade.

   Entre a reprodução da desigualdade, do sofrimento e da opressão, e a afirmação revolucionária do poder popular e minoritário, a diferença parece ser de consequência, não de origem. A contradição marcante entre o que desejo e o que desejo desejar, minha própria implicação, profunda e dolorosa, nesse problema.
   Ainda, o que enxergo: a implicação de todo desejo revolucionário em máquinas de reprodução capitalísticas, a necessidade e a possibilidade de ruptura em todo encontro.

   II

   Uma situação da psicanálise na franqueza da invenção de seus objetos (o inconsciente à americana? o desejo à francesa?). O que quer que seja: algo entre o comportamento (do corpo) - tomado sob o nome, algo obscuro, de pulsão -, a situação do humano no discurso (em juízo e projeto) - Sujeito no Eu, e no Ideal do Eu, e essa fábrica de pessoinhas que foi chamada, como tanto se deseja - para produzir indivíduos de pleno livre-arbítrio -, de Outro. Ali, algum campo para intervir: ao lado de cada sujeito, guiada por um conhecimento (epistemologicamente rebelde) das farsas da subjetivação contemporânea, uma caminhada que é preciso saber fazer (para sobreviver) e em que cada vitória (imagem do analisante ou do analista, tanto faz) será convenientemente atribuída ao processo analítico.
    Depois de toda essa especulação, hora de ler - e boa noite a você que talvez tenha lido.