Se os seus fantasmas tiverem dado uma passeada por aí e encontrado você na rua, talvez seja interessante atear fogo em sua casa e ir embora. Não há exorcista suficiente para alguns demônios, diz-nos o estado da arte sobre demônios.
Entretanto, mesmo isso é pura árvore: não nos importamos com o retorno, porque não nos interessa o recalque. Não é num caixão que Romeu serve aos nossos propósitos, mas sim num museu ou dissecado em um laboratório. Por metafórico que seja, Romeu enterrado fortalece apenas árvores, arborescências e raízes encrustadas na terra e referidas sempre a um mesmo caule e dirigidas ao Sol.
E quanta coisa faz o desejo além de querer Sol!
Servimos Romeu na mesa, como ele mesmo pode prever antes da morte:
Rasgando a realeza, a real lesa, ar e a lesa,
Mastigo sua pele,
Meu mal
tenho
à mesa!
E devoramos. E é num estômago genital, no sentido reichiano, que ele será digerido. Será criação coletiva, não será dado como presente a ninguém, nem retido como um tesouro. Será produção socialista.
Mas Romeu não psicografa porque não é ego algum, Romeu é teatro, puro teatro de um falso futuro-meta, de péssimo gosto. Cafoníssimo, como diria algum de nossos colegas. O Romeu produzido, repetimos, não era ego, não era personalidade, não era nada além de teatro: superego, no máximo dos máximos, expressão da meta ideal e brincadeira imaginária de eu idealizado.
Nunca existiu, exceto antes de ser escrito, quando fomos realmente reichianos.
Nunca tocou, exceto no que imaginamos sobre o toque que existiu, que foi toque nosso, de todos nós e de todas as contingências que não mais reconhecemos,
fios perdidos,
deste nó.
Arbaçus, leitores imaginários. <3