domingo, 31 de agosto de 2014

Registro de um Sonho Velho de Romeu-Fantasma - Morto. Morto.

Lá estava.

Lá estávamos.

Clima de Sonho.

Romeu sonhou n'agente.

Sonho de fantasma:

Sonhamos que dava certo.

Duvidamos que era sonho.

Duvidamos.

Sonho de fantasma.

O Velho Sonho de Romeu-fantasma.

Morto.
Morto.

Sonhamos a Koshka conosco.

Sonho Velho de Romeu-fantasma.

Morto.
Morto.

O horizonte é do vivo.
Um novo nome, uma nova máscara e pode ser que...

Qualquer coisa.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Abraço e tantas outras coisas.

    Este texto é pra ser abraçado.

    Às pessoas que tem nos abraçado, gostaríamos de agradecer, tem sido bom. Temos até uma poesia, mas isso é pra ser um modo de enxergarem nossa beleza¹, então pretendemos aprender a declamá-la belamente.
    Ir a uma festa não é mais estranho... porque aceitamos que elas não são o oposto da solidão. Uma festa não é, definitivamente, um local de encontro, se você não se permitir dançar com o vento e com as estrelas, com a noite e com os insetos².
    E então, mesmo dançando com estrelas e ventos, com o mato, com a terra, mesmo assim, você pode se apaixonar por esses humanos ao redor, esses que dançam entre si.
    E abraçá-los, você também pode.
    E pode achar estranho... "nossa, como eu não soube abraçar este humano" - nessa hora, você vai abraçá-lo novamente e então aprender a abraçá-lo, e vai se sentir bem por isso.
    E você pode até dizer "agora eu sei te abraçar". O humano pode achar isso interessante, especialmente se ele tiver um pouco e vento e insetos dentro de si³.

    Então queremos um novo abraço.

    O exercício de entregar-se completamente a si mesmo, experimentar o próprio corpo, sentir. Também sentir o vento ao redor. Sentir o ar, o cheiro, o calor ou o frio (ou outra coisa), sentir o tato, sentir os sentidos que os insetos sentem, uma vibração em nossas anteninhas ou qualquer coisa assim...
    Podemos sentir outras coisas, antes, depois, durante, ou n'outro momento... sempre paramos e sentimos, antes de comer a comida. É como uma oração para o mundo. Uma oração antes da refeição em homenagem "ao processo". Tudo isso que vem acontecendo.

    Uma entrega... esse é o abraço... mas não é uma transferência de mais-valia, não é posse privada, capital filiado mudando de papai, não é isso. É disposição de um vivo, esse vivo que somos e que mora em nós e no qual moramos, esse vivo que pulsa, que repuxa, encolhe e solta (e tantas outras coisas!), isso que devimos: disposição para experimentar o processo, o mundo, outros vivos, outras terras, fogos, estrelas, águas, mares, chuvas, árvores, outros humanos, outras humanidades, bichos de todas as cores, formas, de todas as forças, as montanhas-de-tudo que por tudo estão espalhadas.

   Esse é o abraço, e depois não é, e depois é e não é, e depois outra coisa que não é nem ser, nem não ser, nem entre. 
   E tantas outras coisas.


NOTAS (não leia se você ama):

1: instrumento de mais-valia de código, já que é assim que experimentam o amor. Isso funciona assim porque as pessoas (incluindo, provisoriamente - como numa análise de conjuntura - nós) buscam encontros com equivalentes gerais e não com novos absolutos. Nesse sentido é que, como disse a Água, ficam julgando nossos olhares (olhar tem um "ato imanente" de escolha num supermercado de pessoas equivalentes a Mamãe ou Papai).
2: ao invés de dançar com os caretas ou com os diferentes, os dois pólos da existência no mercado afetivo de equivalência.  Se você dançar com os caretas, estará num jogo muito velho, tão velho que você pode enguiçar, enferrujar. Mas se você dançar com os diferentes, então você vai ter que ser como eles. Há um equivalente geral que compara os diferentes para escolher o melhor em termos de diferença. Esse é o paradoxo dos "diferentes".
3: Quanto mais "devir" houver na categoria do equivalente geral, menos as coisas vão ser difíceis nesse ponto. Os humanos com mais devir nessa categoria podem aceitar mais devir no mundo.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Série de prescrições

   A abolição do objeto de desejo surgiu com uma mudança de paradigma e de atitude diante dos estímulos aversivos condicionados. Talvez eles tenham descondicionado. Então estamos lidando com estímulos que podem exceder a lógica de reforçamento-punição. Mas tanto faz, sobre isso (ou seja, eles certamente excedem!).
   
    Sentir um si-mesmo, sentir o outro
    Não necessariamente nessa ordem.
    Sentir o corpo. O corpo é malditamente importante. E íamos esquecendo.
    Abolir a moral subjacente (?) à militância desesperada. Sem corpo não há militância.
   
    Abolir a dor necessária. Principalmente isso: desnaturalizar a dor. Falhar com o outro, decepcionar o outro e se desculpar, pedir desculpas ao outro e saber que o perdão dele não é perfeito.
    Negar o outro tirano.

     Negar o eu tirano.

    Qualquer coisa como uma série de prescrições pode ser mais válida do que uma doutrina de dor e sofrimento. Qualquer coisa como um "afazer" sem funcionamento prazeroso pode ser menos bom do que o socialismo soviético stalinista.

    Ninguém precisa funcionar como um relógio.
    Repetimos: não há militância sem corpo.
    Não há potência senão a do corpo potente.
    Não há corpo-potente sem prazer real-sensível.

    Não outro real senão aquele da máscara mínima do sensível médio, no centro da distribuição, na curva normal.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Abolição do Objeto de Desejo

   É interessante abolir a noção de "objeto de desejo", como sendo alguém que investimos de desejo. A noção mais difundida de objeto é a de objeto-imóvel-para-apreender, ou objeto-passivo-para-amar. Tanto que, quando falamos em objetização da mulher, em geral estamos falando de tomá-la como objeto-inerte-para-consumo, ou seja, quando se aceita uma quantia dinheiro (ou outra coisa) como equivalente-geral para a imagem - ou mesmo para o próprio corpo feminino, numa relação na qual a própria pessoa (a mulher ) não é sujeito - não participa (por exclusão) do processo de negociação, ou de produção de transferência, ou de codificação.

   Então criamos uma nova forma de dizer que supõe uma prática de liberdade no outro investido, e que portanto supõe uma relação de poder (no sentido foucaultiano: não como uma relação de dominação, mas como um jogo de interesses em que todxs participam). Chamemos o que desejamos de "sujeito de desejo". Esse termo também é interessante porque carrega a suposição de um desejo no outro, ou seja, a relação envolve um outro desejante que pode aceitar, não aceitar, coproduzir, modificar ou mesmo desconstruir nosso investimento, além de produzir os seus próprios investimentos.

   Mas mesmo os objetos de desejo (coisas desejadas que não desejam - no sentido psicológico de desejo - ou seja, objetos sem psique, "inanimados") são construídos costumeiramente como mais estáveis do que nós (que criticamos os essencialismos) supomos que realmente sejam. Então mesmo o que chamaríamos "legítimo objeto de desejo" é usualmente tornado menos "ativo" e dinâmico (movimentado!) do que é na (nossa visão) da realidade. Por exemplo, no sentido físico, podemos dizer que não enxergamos (com nossos olhos) os movimentos mais sutis do objeto (as vibrações das partículas, por exemplo).

   Mas temos que parar e refletir, porque esse desejo "psicológico" não é o que tomamos para falar de política molecular, ou micropolítica.

    Não queremos que nosso movimento seja uma simples sobrecodificação do corte com a natureza. Não é pra ser isso. Ou seja, queremos é reconhecer o que se entende com os termos e usar nossa criatividade para inaugurar sentidos que possibilitem evitar a reprodução de termos "conservadores".
   Então: não é que hajam coisas investidas de desejo e coisas não investidas, ou coisas que investem e que não investem de desejo... é só que isso se maquina diferente: os objetos só podem investir de desejo porque os sujeitos agenciam os objetos. O "vice-versa" só se funda a partir do desejo do "vivo", ou seja, não há política sem vida, não há desejo sem sujeito, e o objeto é o "inanimado" que, sem 'psique', pode investir apenas porque o sócius é agenciado por máquinas-desejantes... Essa disjunção (homem-natureza) só precisa ser feita porque ela já é feita e porque a noção instituída de objeto resiste à desapropriação. Na (nossa atual) verdade, como já dissemos, todo objeto é sujeito. Mas é uma maquinação específica das coisas que chamamos de desejo, e essa maquinação requer máquinas-desejantes. AÍ é que surge o corte, aí é que o homem se coloca como quase-causa da natureza: quando ela surge, tudo sempre foi e sempre será político.

    No fim das contas, é falar "sujeito de desejo" por aí, mesmo para os "objetos", porque estão sujeitos a e são sujeitos de desejo.

    Abraços.