domingo, 28 de dezembro de 2014

28 de dezembro

   E parece que encontrei um novo espaço onde escrever é tranquilo... quer dizer, nada disso é mais como uma prescrição pseudo-científica sobre a vida cotidiana. Apenas um diário de campo do "estar vivo", uma ferramenta possível para estar em meio à civilização. Nada de "melhor possível" em detrimento da plasticidade do vivo orgânico.

   O infra-ego funciona como pode; corpo sem órgãos algum... trata de organizar debaixo os órgãos necessários para que sobreviva o copo (essa tarefa é dada a todas as formas de vida).

   Tenho pensado sobre as estéticas da existência (uma organização pré-pensada pode impedí-las de realmente existir... que será essa obra de arte que conta com moléculas inesperadas...?). O "micro" da micro-política, devir minoritário que inocula seu funcionamento numa grande e poderosa bactéria. Tudo isso que funciona debaixo do seu nariz, se você é um "Eu" com nariz.

   E hoje eu pude dançar como um ser perdido em meio a todos eles e apenas ser;
   Hoje pude também chamar a atenção da velha Drugui para a mensagem que ela precisa  ler para que eu faça valer um aprendizado histórico sobre um não-apreendido de nosso antigo amor... ou melhor, para que eu possa compartilhar moléculas que creio que podem ajudar-nos a localizar melhor o que aconteceu numa grande história das contingências.

   Só isso. Abraços.

sábado, 27 de dezembro de 2014

   À estranheza de sempre, à estranheza de existir,
   Qual seja seu valor - tão mal a temos julgado,
   Quero dar voz agora, voz na ágora,
   Mas qual seja seu juízo - tão mal tem sido valorada,
   Devo dizer...

    À estranheza de existir, porém, é claro,
    Não restaria existir se ganhasse etiqueta,
    E bom valor, nesse mundo de valor-moeda,
    Estranheza, ora, não vende não.

    Dançar no deserto (com o Sol nascendo...?)
    Sem ter nossas intensões roubadas,
    Sim, isso envolve uma etiqueta que não nos cobre,
    Uma embalagem na qual não se cabe,
    Ou só o movimento rude e ineficiente à compra,
    Pode ser... só...
    O movimento de nossos quadris.

    De meus ossos pontiagudos são os furos no papel filme
    Que nos envolve para que sejamos vendidos a quilo
    Uns para os outros por aburguesamento ou
    Falta de identidade,
    Ou por que não pertencemos mais
    À classe proletária?

    Tudo o que funciona ao mesmo tempo impede você de pensar,
    Por isso mesmo esta estrofe é só um desabafo e risos
    (Rsrs)

    Dançar no deserto e acreditar nessa potência de existir
    E nas poucas boas ferramentas
    Ou nas ferramentas que são pincéis e tinta,
    Para "criar com".

    Nada de novo, enfim, além da coragem,
    Olhar com alguma crença para o corpo envergado do trabalho cotidiano,
    Olhar com alguma crítica para o corpo tampado para não funcionar,
    Exercer função - nos eixos deve estar,
    Dançando no deserto de novo,
    Ainda exerce, exerce claramente,

    E funcionamos desembalados justamente aí
    Não exercendo, sobramos,
    Comparados e descomprados,
    Excedentes, defeituosos: ocupar! resistir! nas prateleiras

    E brincar de amar por jamais deixá-las
    Mas explodir, pois somos incendiários,
    Caseiros e perigosos, enfim.

    Abraços!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH
não tenho mais ciência para vida diária além de viveeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeer





























aaaaaaaaaah não tenho mais

não tenho maiiis

domingo, 14 de dezembro de 2014

Pela suspensão da paranoia primeva

Nos mandam aproveitar o clima de Eureka e escrever mais.

Respondemos: mais fundo no poço da descoberta.
Mais fundo no posso da descoberta.

Posso. Posso. Posso.

Id, Eu, Supereu, são máscaras científicas que psicologizam o conflito político.
São formas psicológicas de enunciar que o problema humano é um problema político que envolve necessariamente um desejo que pode fugir à racionalidade. No século XX, diga "ISSO".
Diga: há um conflito psíquico, diga em meados desse século XX.
"ISSO funciona em toda parte", diga novamente, mais adiante nesse século de araque. Diga para que seja possível enunciar que ISSO é político ainda que não seja racional. Que há loucos na pólis, ou seja, que o fato de que algo escape ao Mesmo da nossa função linguística (a identidade) não o faz deixar, por causa disso, de ser político. É político, é político, diga já no fim do século XX.

Estamos aqui no começo do século seguinte e podemos então dizer, com alguma força de vontade: ISSO, EU e SUPEREU são máscaras psicologizantes do conflito político.

EU sou o mediador de meus desejos que são proscritos.
SUPEREU há uma lei que faz com que os desejos tenham de ser agenciados com alguns cuidados. Não posso fazer tudo o que desejo. Melhor ainda se eu puder dizer: não posso desejar qualquer coisa (produzir qualquer coisa, enfim, não posso fazer qualquer coisa). Melhor ainda se o que eu fizer puder me dar alguma sensação de estar fazendo tudo o que eu queria fazer.

Melhor, muito melhor.

E então mantém-se a máquina paranóica sob a máscara neurótica: é o paranóico que goza se chupar o dedo for ter o seio da mãe novamente. Tenha o melhor ato falho: tenha o seio da mão.
O sintoma vem de um problema que não tem como resolver? Uma política a nível do consenso impossível? A Lei universal do desejo fixado. Única saída: fingir que satisfaz (ao invés de desfixar e produzir outra coisa). É que ninguém pode justificar a castração para o ISSO.

Para onde ir? Deleuze e Guattari não solucionaram isso. Não houve fórmula para um desejo não captado. Apenas fórmula racional para fazer como se o desejo fosse ainda produtivo (é uma crítica bem dura). Reich tinha a fórmula para que a neurose se transformasse numa busca pelo nirvana. Conseguir foi o mais difícil. Nós (nós) enlouqueceríamos antes.

Mas encontramos que o melhor caminho é desnaturalizar a paranoia. Repensar a validade da totalização que coloca a paranoia no início de tudo: o desejo é, a princípio, totalitário? De fato, lhe respondemos de forma totalitária (lapsei total-otária) no bico que cala. No tapa que ensina. Tudo isso faz-se como se fosse oposição dialética: cortar um falo todo-poderoso, a despeito de que tudo isso já tenha girado muito: o totalitarismo foi passado à mãe (que precisa ser castrada) e, todavia, a castração da criança sucederá esse processo: castrar-se-á a criança da mãe aos dois anos e a mãe da criança aos seis. Tudo como se o desejo da mãe fosse totalitário e o desejo da criança funcionasse por espelho.

Grande e evidente pergunta: E SE NÃO FOSSE?

Essa não é, obviamente, uma pergunta para a psicanálise, mas sim para uma etnografia das comunidades libertárias.

Para nós, basta crer que a suspensão gradativa do totalitarismo pode ser a esperança para o fim da castração sistemática.

Observação

Preciso ainda adicionar uma observação sobre o sintoma da máquina simbólica satânica: que ela opera por ataque a espantalhos simbólicos, ou seja, que ela torna a angústia controlável pelo ataque a símbolos do conflito. A saber, o símbolo que dá nome a essa máquina (Satanás) tem funcionado como expiação de angústia através do ataque a um inimigo que já morreu há muito tempo (Deus). Atacar Deus tem sido expiação para problemas mais atuais, que são políticos, não Simbólicos e nem Reais no sentido lacaniano. Assim mesmo, tenho percebido que, apesar de Freud não ter podido enunciá-lo, são nada mais do que imagens para forças políticas o Isso, o Eu e o Supereu.

Rebele-se contra a opressão num único gesto obsceno diante da cruz.

Análise


É preciso desenvolver tudo no território da racionalidade que venho criando.  É preciso explanar, demonstrar por que relações um certo sentido é admissível. Depois transformamos isso numa máquina de guerra através da arte. Mas primeiro isso: um diário onde tudo é racionalizado ao extremo e temos algumas contingências mais ou menos em conta, em medida. E aí vai:
è Do funcionamento do símbolo de repulsão, é preciso estabelecer algumas de suas características. Estamos totalmente afetadxs por isso e seria mais fácil gozar pela arte antes de escrever. Ou analisar essa “sublimação” e não uma deriva racionalizada do sentimento... mesmo assim, prosseguimos: queremos analisar material vivo e pulsante.
a) Que seu funcionamento é mais político do que “sublimante”. Ou (para ser sincero, devo admitir) é sublimante, mas sem se tornar inofensivo por isso – ou perder completamente seu valor político. Lembre-se que há uma raiva funcionando como “não preciso mais de você”. O sentimento de abandono pode ser substituído por uma individualidade plenamente autoafirmada: eu, eu mesmo, eu fechado, eu que sou e não preciso de nada disso, eu que me enfureço e posso repelir tudo o que você oferece (protótipos: leite, amor, cultura, amor, controle, amor...). Há uma projeção da dor no Outro e, por isso, uma integração e ainda um fechamento do Eu.
b) Que Que a ofensa vem negar a antiga relação de necessidade. Ou seja, há uma outra projeção do prazer no Eu. Esse novo aspecto, que eu poderia chamar de narcísico, repete-se na história: Em Rûs-Têm ele é a morte de Ela. Em Romeu, é Tyler Durden. Em Lilá, é a beleza da mulher. No Lobo, a raiva absurda, a violação total do desejo do Outro é introjetada novamente, e preciso pensar alguns movimentos:
I: a identificação Lilá envolve também uma introjeção depressiva do Outro odiado. Isso permitiu odiar menos o fora, borrar as fronteiras, trazer a multiplicidade pro jogo – desdefinir: quem sou, quem somos? – e então o Lobo:
II: O Lobo surge como nova ruptura paranoica. A marca de seus caninos, a marca de sua pata, tudo isso aparece como uma divisão polar entre masculino-feminino, eu-outro, e nossa afeição ao Eu e nosso ódio ao Outro manifesta-se sempre pelo ódio do Lobo a uma Lilá acorrentadora. E aí a denúncia feita pelo Lobo: a atitude que introjetou o Outro prendeu um Eu mais antigo e odioso.
                Aí fico pensando em qual posição defenderei, aquela que aparentemente acorrenta uma figura odiosa e falsamente autossuficiente ou aquela que integra, a duras penas, uma uta de classes que não podemos negar nem mesmo a nível do Infraego. E a resposta é precisa ser “depressiva”, mas precisamente desse jeito:
è Numa afirmação de que o Lobo – ou Rûs-Têm – só pode defender a si mesmo, mas ignora multiplicidade e causa muito sofrimento a seu redor. Ele serve, precisamente, para defender-nos da depressão quando ela é muito esmagadora, quando abaixar a cabeça representar a morte toda, e o tivermos que evitar.
è Numa afirmação de que, salvo nos danos mais ou menos propositais de sua ignorância,  a posição “depressiva” (integradora) está em defesa do todo. Ela defende posições políticas que pode considerar, as multiplicidades todas, justamente porque sua missão política envolve a integração, envolve compreender outros todos, trabalhar não apenas por si (por Lobo, Lilá ou o inferno, mas por todxs que puder – abrir espaços onde não haveria).


Tudo isso é sua missão.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Boca, Bode e Rizoma

   Pela pirueta mortal da teorização racional mais ou menos apoiada pelas evidências, chegamos novamente a Wilhelm Reich. Quer dizer, identificamos três estratos. Mas poderíamos ver quatro, cinco, ou mil. Mas o que vale publicar é o resultado da psicanálise:

    Uma boca, que é a boca do plenamente recalcado e esquecido - nossa amnésia infantil quase completa. Ou seja, não podemos dizer quase nada a respeito.
    Depois um registro em forma de pentagrama satânico. Uma reação odiosa à afetividade que é negada (e então se supõe que tenha sido negada. É mera suposição, a menos que fosse possível suspender retroativamente o recalque.
    Por último, um rizoma, ou seja, a possibilidade de reativar a política da coisa: mil forças são mil vias e a produção é retomada de forma criativa (mas não pelo aparecimento de um sujeito furado, e sim pela mudança nas relações de poder - há espaço para sujeito no sócius -, ainda que seja preciso admitir, com Vigotsky, Freud e Lacan, a importância de um espaço para o sócius no sujeito).

   Mas eu também quero pirar um pouco aqui. Contar pra vocês: há um certo orgulho de existir agressivo, que temos resgatado. Isso não é exatamente bonito... precisamos criticar e destruir, talvez, reconstruir e começar de novo. Mas suspendemos todos os falsos movimentos que, disfarçados de revolução, estavam a reforçar estruturas superegoicas. A saber: a desconexão não me fez avançar muito... foi importante, se pá, mas não nos ajudou tanto a ter potência.

    E aí pudemos mostrar nossa tomada.
    - Ei,você, veja como quero que meu desejo encaixe no seu! - pode ser o primeiro passo para passarmos  a desejar juntxs. Mas (e me enganei muito pensando o contrário!) é preciso que os desejos separados se toquem para que possam se juntar. Nenhuma operação ascética vai fazer esse trabalho. Nenhuma-nenhuma. Agora, isso não quer dizer que você precisa ser escrotx. É só a necessidade pragmática de fazer ver a forma dada ao seu desejo ali.
    Aí há uma função da fantasia: que o desejo possa ganhar forma no modo-indivíduo para ser comunicado e compartilhado. Quanto mais você puder produzir em conjunto, menos vai precisar de fantasia, já que as coisas vão acontecer como todxs querem. A outra coisa é que pode rolar uma fantasia coletiva, mas aí temos umas utopia e uma ideologia. E isso é OK, também - mas veja que, provavelmente, os problemas que ocorriam na escalação indivíduo x grupo podem se repetir na nova divisão grupo x grupo ou grupo x natureza. Ecosoficamente, cabe tentar desejar com o planeta todo, ou com o mundo todo. E isso é, sem dúvida, um desafio à sensibilidade.