segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pela Tangente

   Alto teor de café pode contribuir para que seus estados mentais evoluam de forma não adaptativa. Isso quer dizer que, se você estiver muito cafeinado e for muito neurótico, isso pode contribuir para que você se sinta mal ou faça coisas que te deixem mal, ou entre em situações que, no fim das contas, te deixarão triste.

   Triste, a saber, é como ficamos ao descobrir que nossos olhos mentem. Especialmente se quem nos diz parece ser muito sensível, ou se quem nos diz nos dá um grandessíssimo abraço depois disso: falou aquilo com sinceridade.
   As janelas da alma. Existirá tal coisa, a alma?

   Psicanálise + psicanálise + psico-naturalismo pode deixar você um pouco confusa. Abraços, enquanto rituais sociais, não servem para melhorar, nesse sentido. Você pode estar ao redor dos magos da mente, eles não vão ver como você está sofrendo. Aliás, é provável que alguém relativamente mais despida dessa maldita fantasia de "processos mentais" ou "maquinações psi" te encontre, segurando-se pra não chorar, num maldito canto, ao redor dos humanos, absolutamente perdido em sua própria culpa por existir. Ela vai olhar pra você e é como se a coisa por dentro não se sustentasse mais.

   Aí você chora.

   Pode ser impossível não abraçar, nesse momento: aí sim, aí o abraço serve para melhorar. Não tem nenhuma prescrição social hegemônica a respeito de resgatar pessoas absolutamente neurotizadas de seu poço escuro. Não tem prescrição psicológica para inclinar-se sobre os amigos e abraçá-los, ou olhar nos seus olhos como ela olhou a gente. Só humanes fazem isso, humanes do melhor tipo. Qualquer coisa de indescritível acontece e você está sem possibilidade de escolher palavras. Você está sendo compreendido, não há o que fazer. E você continua contendo o choro, porque a neurose funciona assim... você continua querendo ser amado e você imagina - fantasia, é esse o seu fantasma, ou será que você se lembra...? - que há tipos de pessoas que recebem menos amor, ou que não conseguem sentir-se acolhidos se não for no olhar da compreensão que nos suga pra dentro do abraço... se não for no olhar que faz sentir dentro fora e fora dentro, o olhar transversalizante da existência - e nosso olhar (mentiroso e) transitivo se perde dentro daquilo.

   Somos o Outro.

   Você conta como foi que alguém desarmou completamente aquilo que "funciona a pesar de (...)" na neurose. E você pede desculpas por ter sido abatido (... por palavras tão simples e amáveis?). E ela vai dizer pra você não se desculpar. "Nunca é bobagem quando a gente sente", vai dizer. E você vai dizer "mas mas mas" e ela vai repetir com força: "Não, NUNCA (...)". Então você só abraça e se deixa esquecer um pouco de se culpar. É também um mecanismo da neurose, o perdão - a exceção que confirma a regra (ou a Lei, se preferirem). Parece não ouvir saúde-saída.

   Você pode estar melhor, alguns dias depois.
   Aí você pode ser confundido com alguém interessante, ou mesmo ser alguém interessante, ou parecer mesmo, ou estar existindo de uma forma que seja hegemonicamente investida. Mas você não sabe como lidar com isso. E tudo parece incerto quanto ao futuro - porque não é futuro, é PORVIR, porque as novas prescrições teórico-práticas e políticas são o que nos impede de escrever boa poesia.

   As velhas poesias eram infestadas de dor.
   E nós escapamos pela tangente da dor com "porvir", "corpo sem órgãos", "transversalidade" e "máquinas" de todos os tipos.