quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Big-Bang

    Todas as coisas são destruídas neste momento específico em que a explosão redistribui mil potências de micro-revoluções aburguesadas e do anarquismo enquanto estilo de vida (amo essas coisas) que vocês já podem começar a criticar e posicionar numas estruturas analisantes.
    Amiguinhos.
     Todas as partículas que pertenciam a não muitos objetos bem definidos ao meu redor se transformam num pó que em breve poderá ser qualquer coisa: este é o big-bang que não existe no mundo das classes e portanto não existe. Talvez as classes tenham também explodido.

     É uma nova existência que se cria a partir de agora, porque nada daquilo poderia ser concebido na existência antiga: nem a conversa, nem tudo isso que devia permanecer não-dito mas eu NÃO DEIXO MAIS PERMANECER:
    Digo do afastamento;
    Digo da energia que investi e desperdicei, ingênua, cega e com coágulos de sangue no meu coraçãozinho de gata, coágulos do meu desejo - a reprodução do sempre-voltar, o beijo que sempre vai ao mesmo lugar e não molha mais as bochechas que quis molhar.
    O desejo que maltrata as bochechas que quis molhar.
    O desejo que arranha as bochechas que quis molhar.
    O desejo que arranca as bochechas que quis molhar.
    Às bochechas que quis molhar, que quis mulher: um pedido de desculpas pela cegueira, pelas estátuas de grandes bochechas que há muito não eram mais molhadas, pelas palavras que há muito não sabiam dizer sobre bochechas molhadas de beijo.
     A mim mesma, euzinha (porque eu acho que mereço, né gente?): pára de ser tão cega, Lilá, para de ser escrota com as bochechas queridas, para de procurar regularidades, para de pensar nas histórias que só tuzinha viu acontecer, só tu e os fantasmas que tu já matou. Deseja-produz, produz-deseja, mostra como tu pode sacudir o cabelo e ser poderosa!

    As novas brincadeiras estão chegando com as cartas de correio. Não respeitam fronteiras, não respeitam as marcas nem as dores das cidades-estados. As novas brincadeiras. Eu amo.

    Lilá.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Notchi Infeliz

   O Lobo me encontrou, meio molhadinha da chuva, atravessando o quintal da frente pra voltar pra casa. Ele tinha saído na noite. Eu vi ele sair pela janela do quarto da Koshka.

    Será que a Koshka me lê? Até minha mãe me diz que ninguém tem o direito de monopolizar meu amor. Minha mãe, onde tudo começou, até a monopolização do amor, diz isso.

    Ele saiu pela janela do quarto da Koshka naquela hora em que eu não pude suportar e nem ele. Aí ele se foi e, como ele me encontrou, agora na volta, então ele está aqui também. Isso significa que as teclas do computador vão ficar unhadas de lobo.
    Ele estava lá também quando eu brinquei com o kot e a cachorrinha da Koshka. Ele estava lá e é por isso que eu pude brincar tão bem e ficar feliz em não ser perfeita. Ele me fez ver o sangue da Koshka na parede. Isso deu medo. Mas ele queria só o amor da Koshka. Amor.
    Eu devia matar essa palavra: "amor,     a-mor". Eu devia enterrá-la com o Romeu. Mas eu amo a Koshka demais pra fazer isso. E então depois que o Lobo foi embora eu fiquei triste e deu dor de cabeça. A Koshka estava do meu lado, aquele filmezinho era bonito e eu me senti completamente bobona, fraca e a fim de abraçar a Koshka pra sempre. Mas a coisa que eu menos sei no mundo é o desejo da Koshka. Será que ela queria abraço de Lilá?

    Eu ainda estou tristinha, gente, sério. Queria muito poder abraçar a Koshka e não dá. E o Cabeça de Passarinho me disse pra fazer algo de importante por aqui e tacar fogo em alguma coisa. A única coisa que eu queria ver queimar sou eu mesma. Não quero morrer queimada.

    O Lobo estava ali quando eu fui diferente de sempre, mais ou menos imprevisível, quando eu me produzi em alguns segundos e quando eu reproduzi essa produção por outros bons momentos. Foi depois disso que ele saiu pela janela e desistiu.

    Eu fiquei ali, morrendo aos poucos, entristecendo.
    Deitei na Koshka por uns instantes e foi só naquele momentinho que eu não quis chorar. Foi só quando eu senti que ela estava perto, de um jeito miserável e insuficiente, que eu pude ter um pouquinho de paz.

    Romeu disse: "Eu sou a fome no forno."
    Esse é o amor que eu devia ter enterrado com ele.
    Quero muito dizer pra Koshka o quanto eu amo ela pela milionésima e inútil vez.
    Quero muito investir em outros amores. Que existem.

    E-      XIS-     TEM.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Empatia


   Ele foi embora de novo mas deixou a sede de sangue.

   Estou aqui e sou forte e mato minhas fraquezas nos meus dois seios cheios de prazer.
   Estou aqui e o vento está entrando pela janela (finalmente) e batendo na minha cara. Não preciso dos óculos pra isso. Mudo de lugar pro vento me devorar e brincar de arranhar.
   Estou aqui comentando sobre como eu adoro me masturbar.

   O vento para e estou escrevendo. Agora o vento volta. Não sei mais se quero o vento no rosto ou enxergar mais do que borrões na tela do computador. Quem são vocês que me leem a final? Quem são vocês, letras que escrevo pra essa gente que não sei?

   A caneca laranja tem cheiro de leite de soja e isso é ótimo, porque significa que finalmente estou sentindo o leite de soja como "lar", como acordar de manhã e saber que o dia não é páreo para minha força, minha brincadeira de faz-de-conta.
    Daqui a pouco é hora de ser forte. Aperfeiçoar. Ser. Produzir. Tornar-se. Tornear-se.
    Agora é hora de amar.

    Talvez a melhor frase para o agora seja:

    "eu não quero que nada dure pra sempre".
    Foda-se. Eu não quero. Eu quero matar todos os devires que eu criei para manter as coisas de um jeito só. Eu (Lilá) não sou de um jeito só. Eu não sirvo de símbolo pra ninguém atingir um lugar. Eu sou um caminhar. Nem posso ser chamada de caminho porque nada está definido à minha frente. Qualquer direção pode ser a correta. Eu posso ser qualquer coisa. E, de qualquer forma, se pisar em mim, eu mordo, eu mato. 
    Posso ser um gato que brinca com formigas. Não saber o que é empatia.

    Empatia são besouros que grudam na minhas patinhas quando eu unho eles.
    Besouros em patinha.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Lua Cheia: Despertar

O acordar da fera de dentro é no escuro.
Vou fazer-me ouvir bem no centro inseguro.
Escutou-me enfim e então entro em apuros.
Sinto ainda em mim dos seus dentes os furos.
São de outros breus, d'outras noites,
D'outros escuros.

Então começamos, porque eu acordo. E é nessa merda que eu acordo. Nessa merda.
Eu estou furioso porque me sedaram. Me deixaram no escuro e sem Lua por muito-muito tempo e isso me dá nos nervos a cada vez que eu me lembro.
Trago toda a fome de mil noites em que não uivei.

Tudo porque a Lilá tem que dizer: olá, eu sou Jesus, e o Romeu teve que brincar de literatura por tanto tempo. Estou farto e quero que ambos morram, que ambos me soltem, me deixem, me odeiem.
Não sou bom.
Não quero que vocês achem que eu sou bom.
Se eu precisar de afeto, vocês vão saber que é porque eu preciso, e vão se unir a mim porque sabem que é porque precisam. Não vai haver mágicas. Não vai haver truques idiotas. É risível, mas também irritante demais pra se rir, que eles tenham ficado tanto tempo fazer as coisas parecerem bonitas e aceitáveis enquanto eu acho que FODA-SE, eles vão entender quando a fome os alcançar como a mim alcança, quando a Lua estiver cheia pra eles também...

Escrever pra vocês já é irritante.
Tudo porque a Lilá continua no comando.
Vaca.
Vaca-vaca-vaca-vaca-vaca-vaca-vaca-vaca!

A gente nasce vai escolhendo amar e ficar preso, não odiar porque o amor é o único princípio. E a gente sofre por isso. As pessoas a gente eleva acima da gente. Os sentimentos viram dor. Fodam-se. A isso tudo eu quero devorar e transformar em cocô.

Cocô de lobo na grama verde de todos os lugares do mundo.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Madalena

    Minhas pernas estavam fracas, porque a Madalena me cansou. Quando a gente se encontra eu sempre canso. Mas fazia tempo que não durava três horas.
    Fazia tempo.
    Saí suada e ela feliz (às vezes eu acho que realmente SEI tocar ela).
    Que bom que foi assim.
    Aí percebi que ele estava o tempo todo ali conosco, me ensinando a fazer, me mostrando como mexer. Quando ele diz é bom porque eu não penso em nada: só faço. Ele está ali e eu me solto e me deixo ser com a Madalena o que ele é na noite. E então eu sei que ele estava conosco ainda nos primeiros tempos do Romeu, antes mesmo da Drugui aparecer. Tempos de força. Mas eu sempre digo pra todo mundo que agora eu voltei à "vida no modo hardcore". E é que voltei mesmo. Mas, desta vez, o Romeu está morto e eu não tenho medo de morrer - e, mesmo que ele venha, não me deixarei parar por nada.

    A missão um era: "I: Falar com um estranho".
    Então ela estava lá, andando, do outro lado da rua, e era eu olhando, eu me fascinando nas perninhas brancas dela. Eu quis conversar, juro que quis conversar.
    Foi a fascinação, a fascinação suficiente para não pensar, não imaginar mil coisas a priori, que me permitiu olhar tanto, mostrar tanto.
    Passei dela e percebi que isso não era de todo mal.
    Pensei na promessa porque ela estava em jogo.
    Atravessei a rua porque eu queria ganhá-lo. Era inescapável.
    Olhei para a calçada que se estendia, por onde ela andava.
    Ela não estava mais lá. Pensei "ora, como sempre, Lilá! Perder tempo também é ficar com medo demais, é não conseguir. Como sempre fazemos com a Koshka! Ela se foi. Descumprimos a promessa!".
    Mas ela apareceu. Ela estava vindo mesmo, e eu olhei, olhei fixamente e ela percebeu, passou por mim. Fui deixada pela sainha negra botão-de-rosa. Não consegui falar nada. Fui fraca.
    Lembrei do que estava em jogo. Era o futuro. Era a vida.
    Andei rápido. Estava brincando com umas pedrinhas na mão esquerda, girando elas na palma da mão, tirando e colocando com a mão direita.
     Não pude alcançá-la antes da parada de ônibus cheia de gente, então teve que ser depois.
 
    (Tem alguém aqui, esperem....)

    Continuando...
    "Moça", acho que eu disse, "desculpa incomodar, mas..." (me interromperam de novo e agora querem me dizer o que fazer!). De novo: "mas eu prometi que ia perguntar o teu nome".
     Ela se d;ç... (Nossa! Agora um cachorro veio aqui. Como eles são desastrados! Até pisou no teclado! Como eu nos prefiro, nós, os gatos... melhor entrar dentro de casa. Escrevo comendo minha ração. nham-nham).
     Bom, eu disse "desculpa incomodar, mas eu me prometi que perguntaria o teu nome". Aí ela se defendeu muito rápido. Disse "Não, tranquilo, tranquilo. Eu sou (ou meu nome é...?) Akiren".
     "Eu sou a Lilá", eu disse.
     "Não... tranquilo, tudo bem", ela ainda falava, mas pra quê?
     "É que eu sempre tenho muito medo de falar com as pessoas. Então hoje eu queria superar esse medo. Obrigada por me ajudar!", eu expliquei. Acho que foi por aí que eu joguei uma das pedrinhas com que eu brincava pra frente, que nem bola de boliche, e joguei a outra no lixo.
     Ela só repetia que estava tudo bem pra ela. Acho que ela disse "de nada", também. Aí perguntou se eu ia pra escola. Eu disse que não. Perguntei quanto a ela. Ela disse que não, que tinha idade pra ser minha mãe, tinha 32. Eu disse "ah é?".  Aí eu disse: "Mas por quê? As pessoas sempre me dão mais (idade) do que eu tenho." Ela disse: "Pra mim tu parece uma adolescente". Eu disse: "Mas até onde vai a adolescência?".
     A adolescência vai até os 17, 18, 19, 20. Geente, eu não tenho cara de 17.
     "Bá, mas isso é bom, achei que estava ficando velha.", eu falei, e "Tu?", ela perguntou.
     Eu respondi o "é" que se esperava olhando para o lado oposto e mordendo os lábios.
     Eu disse que era um presente. Agradeci pelo presente de ser uma adolescente.
     Perguntei se então ela trabalhava na escola. Ela disse que não. Ela disse que só perguntou da escola porque "viajou" que tinha aula hoje, mas não tem, estão de férias. Aí eu disse que estou de férias da faculdade. Ela perguntou do que era a faculdade e eu respondi. Ela disse que tem uma prima que faz o mesmo curso.
     Eu disse que não sabia como eu ia ajudar as pessoas.
     Ela disse que "isso" se supera, com certeza... com certeza...
    "Isso" era o medo das pessoas, que eu realmente estava superando, eu acho.
     Eu disse que perguntei da escola, quando passamos por ela, porque eu tinha me formado lá.
    Ela disse que não era daqui. Que mora aqui a dez anos, mas é de Santa Catarina. Perguntei se ela gostava daqui. Ela disse que sim, que aqui é bom de morar.
   
     Acho que foi aí que ela se precipitou para o lado da rua dizendo que ia atravessar pra ir na padaria. Eu disse "tudo bem", eu acho, e "desculpa encher o saco".
   
     "Tudo bem", acho que ela disse.

     Não conferi se ela ia na padaria.
     Continuei andando.
     Cheguei em casa.
     Escrevo.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Sou fake

    Oi, galera.
    Eu sou uma farsa, sabiam?
    Sou como a Marla no Câncer Testicular.
    Eu sou classe média no meio da anarquia. Produzi meu modo de ver as coisas através do que o papai e a mamãe disseram e de mais umas coisinhas que eu vivi (que não foram a pobreza, o preconceito, a marginalização).
     Quem me julgar deve dizer exatamente o que eu sou, e minha forma de viver tem uma etiqueta legal: se chama anarquia como estilo de vida. Toda a esquerda verdadeira (especialmente aqueles que tem o nome mais legal de todos: anarquistas sociais) sabe julgar melhor do que toda a esquerda falsa. A categoria "julgamento da esquerda falsa" inclui, é claro, o meu próprio, minhas auto-análises. Baseada nisso, recomendo que vocês, que eu tanto amo, parem de ler meus textinhos, porque é tudo mentira.

     Pra quem continua lendo a pseudo-ciência, a reprodução que eu penso que produzo, vale a pena dizer: estão se enganado. Melhor: eu (o capitalismo - que é ontologicamente mau, e há fontes confiáveis para saber isso) estou enganando todos vocês. Eu estou entre aquelas "pragas" cuja raiz vocês deviam ter podado do movimento. Por que raios é que me leem?

     O único argumento que pode me salvar da ruína moral, do pensamento reacionário, é o que devo encontrar colocando-me na base: junto aos explorados, os oprimidos. É onde devo fundamentar minha ética: a partir da emancipação deles devo pensar minha vida. Se não for assim, eu serei o lixo conservador que vocês terão que varrer do movimento, para quem não devem escrever senão um apelo à verdade que vocês conhecem e eu desconheço.

     Este é meu choro de tristeza por ser falsa, não ser querida de verdade.

     Lambrabeijos, por fim.
     da Lilá.

Brincando de Ser

    Amanheceu lá no morro e ele já não estava mais com a gente. Era só eu, a Lilá. É engraçado como, às vezes, ele não vem pela Lua, mas sim pela carne que a noite nos traz, pelos seres que, ao nosso redor, temos no escuro.
     Ele veio quando a Drugui apareceu, porque foi Romeu que o criou para aparecer nessas horas, para ser a potência dele... O próprio desejo, como uma fome. E ele me ajudou a ser gatinha, naquela noite, me ajudou a brilhar e me divertir, fez meu reinício valer a pena e honrou nossa marca.

     De qualquer forma, acho que posso dizer que agora estou mais livre. Isso depois de algumas conversas e uns carinhos com a Koshka: agora ela me puxa pra realidade, não me empurra pro pesadelo da minha própria angústia. Agora ela me resgata do lugar chatão que é a minha cabeça e do poço de dor que é o meu coraçãozinho de gata. Será que agora eu posso amar ela por me libertar?
      Não, não posso. Isso seria apenas repetir o erro do Romeu e colocar (de novo) sobre a Koshka uma responsabilidade que ela não deve carregar.
        Eu mesma me liberto, assim como eu mesma me faço, me construo.
        Essa é a brincadeira.
        O que acontece é que prefiro brincar com meus gatinhos do que sozinha.

     É tempo de ficar mais forte, de ficar mais esperta e de ficar mais louca. Quero usar minhas férias pra isso. O belo é que os meus amiguinhos vão me ajudar a fazer isso. Acho que vamos indo nessa direção.

     Abraçocas.
     Lilá.