domingo, 29 de junho de 2014

Ciência

    A função da ciência tem sido, até aqui, supor sujeitos. Suponha o papel do átomo na molécula, o papel da molécula na célula. Suponha a função no sentido de contribuição. No sentido de funcionamento. Nessa maré de variáveis-sujeito, o que faz o sujeito átomo H+?

    E então tudo depende da máquina-fluxo e da máquina corte. Pode ser máquina-fluxo "química" e corte "substância". Subjetivamos um cátion hidrogênio, é isso? A função é... a acidez. E se fosse o corte "corpo" e o fluxo da medicina? Subjetivamos a acidez... pode ser que a função seja a úlcera.

    Temos:


    Nesse sentido a função da ciência é dividir tudo o máximo possível e não deixar nada ser objeto. Já a da religião é produzir objetos anuladores de códigos específicos em benefício de outros e com sujeitos gigantes que dão conta do que foi objetificado (agem sobre os objetos produzidos... há um deus-sujeito que age sobre homens-objetos, por exemplo).


Salve Xangô, meu Rei Senhor,
Salve meu Orixá!
Tem sete cores sua cor,
sete dias para a gente amar.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Gregariedade

    O saber 3 é: a célula mínima para a revolução subjetiva provavelmente tem, no mínimo, o equivalente a dois indivíduos. Equivalente quer dizer... se você puder dissociar sua personalidade, "você" pode fazer tudo "sozinho" com seu amigo imaginário. Obras consultadas: Fight Club. A experiência que tivemos até agora nos leva a crer que com dois indivíduos, sendo um deles um pouco menos neurótico (mais protestante, mais... esquizotípico...) do que o outro , podemos fazer um bom estrago.

    Se funcionar como um casal neurótico comum, provavelmente não poderá ser revolucionário.

    Se funcionar como um casal semi-esquizofrênico, é só dar continuidade (o trabalho já começou! rsrs), mas sempre corre-se o risco de neurotizar e cair num joguinho de gato e rato estilo casamento cristão.

    Se for um trio, pode ser que as coisas funcionem muito bem. O Romeu surgiu de um trio e então podemos falar numa suposição básica de acasalamento. Mas as coisas deram realmente muito certo. É com essa prova empírica máxima que estamos trabalhando: "Rûs-Têm torna-se Romeu através de uma célula subjetivo-terrorista formada por três indivíduos".

    O número ótimo para a célula talvez seja quatro. Se você puder ter quatro, cinco ou mais, faça. Quanto mais melhor, achamos, desde que vocês possam manter um mínimo de foco e dedicação.

    A função da célula é servir de apoio à subjetividade capitalística em decomposição enquanto ela apodrece. É como um asilo ou uma UTI. Estamos à espera da sua morte, mas amamos você. Combater as barreiras tradicionais da neurose é fundamental dentro da célula, e o melhor jeito é aplicar a melhor racionalidade que houver o tempo todo. Usem Freud, se não houver Reich, e Reich, se não houver Deleuze-Guattari. Na falta de qualquer leitura, usem Tyler Durden. Tudo isso são exemplos, mas servem muito bem se você quiser começar logo. Use yôga. Use essas teorias de libertação babacas que tem por aí.
    De tempos em tempos, faça aquela crítica do Foucault sobre "práticas de liberdade" na sua célula. Liberação é insuficiente. O que você vai fazer com as possibilidades?

    Se você não tiver uma célula, construa logo uma.
    É importante, e estávamos quase esquecendo o quanto.

   Abraçações.

   

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Missão três

   Acho que a missão três é reacionária. Paciência.

   A missão três é realmente um desafio.
   Pense naquela pessoa que vem fascinando você há tanto tempo. Vivemos no capitalismo. Não finja que você não consome.
   A missão três é: faça essa pessoa compartilhar um momento de desamparo institucional com você. Melhor: ofereça esse desamparo que você carrega, num momento, a essa pessoa. Compartilhe com ela da melhor forma que você puder.
   Não é como se fôssemos vencedores simplesmente porque desconstruímos todas as importâncias. Você vai precisar de alguma prova de que você existe. E se você existe, deve ser através de um vir-a-ser. E se é assim, deve ser algo como um ideal do eu absolutamente imaginário. Um algo a consumir no futuro. A existência no capitalismo é esse sonho de consumo e, hoje, você vai se atirar na experiência sensível do seu consumo mais sublime. Faça devagar.
    Há curtos-circuitos. Há falhas na comunicação. Há um não-dito. Tudo isso é basal para que as coisas permaneçam mesmas.

    ACABE COM ISSO.

    Você sabe descrever tudo isso que você sente. Você sabe criar a situação para dizer como tudo isso vem acontecendo. O seu fascínio: expresse como ele é. Expresse por quê. Seja ridículo. Você não quer ser consumido, a não ser que a pessoa-ideal-do-eu aceite consumir o inominável que você jogou na existência.

   PARABÉNS, ISSO É O AMOR.

   Tudo vai mudar. Ser consumido... se formos consumidos, tudo vai mudar. Mas não seremos.
    É mesmo difícil pensar o que acontece se o momento de desamparo acontecer.
    Queremos ser consumidos.
    Esse é o nosso consumo.

    Então há uma complexificação na missão três. Você não vai simplesmente jogar merda no ventilador com o seu ideal do eu. Você vai consumir. Aquilo estará na dialética do real. Posto à prova. Ou seja: você vai experimentar a realidade para desmentir a imagem ideal, mas não produzindo uma castração, e sim mostrando que a imagem não existe no totem onde você queria projetá-la. Ou seja, a missão três é isso.

    A missão três é um teste de hipótese e você tem que fazer controlando as variáveis certas.

    Abraço.


   

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Reprogramação da missão dois.

    A Lua está quase cheia. Mas quando ela estiver aqui, o Lobo não vai estar aqui. Quer dizer, não tenho como predizer, mas acho que ele não vai. Na sexta-feira à noite, será noite de verdade. O signo humano para a noite estará no céu, as palavras me farão querer acorrentar o lobinho. Na sexta-feira, não haverá como.

    Ao ponto: quero dizer que estamos recrutando pessoas para um grupo-coletivo para revolução subjetiva. Isso quer dizer alimentar melhor suas máquinas desejantes, quer dizer aprender a lidar com um corpo sem órgãos em meio à maquinaria de guerra (ou anti-guerra) que em nossa compreensão é ainda necessária. Quer dizer construirmos objetivos para nossa revolução subjetiva (em meio à própria revolução subjetiva) e ativarmos tudo em conjunto.
    Autodestruição faz parte do processo. Aliás, autodestruição é o principal componente. Saber sobre isso é "(saber) sentir o próprio limite".

   [Saber 1: é muito decepcionante perder a oportunidade de ir até o final.
    Saber 2: é dolorosa a violação de um limite da subjetividade.]

    A missão um era falar com alguém estranho.
    Se você pode concluir a missão um, vá para a missão dois.
    A missão dois era: quebre uma regra aparentemente importante, mas ela não faz muito sentido, a menos que você queira que sua esquizofrenia seja considerada como tal pela clínica psicanalítica.
    A missão dois é: viole um comportamento seu que você não gosta. Isto é, viole um objeto que coagulou o seu desejo.
 
   Isso requer uma certa destruição, mas não é nenhuma "destruição final". Lembre-se de que ainda estamos falando de um desejo "seu", como se você existisse. E não temos nenhuma prova de que você existe ainda. Há quanto tempo? Será que já houve alguma prova?

    Lembre do que você não quer mais fazer. Redirecione. Pense numa nova coisa pra fazer. Sexo costuma ser a opção mais simples. Qualquer ansiedade pode acabar se eu puder encontrar meu clitóris. Agora. Uma complexificação da missão dois: violar a coagulação do desejo não pode ser o bloqueio de uma possibilidade do desejo. Tem que ser a violação do bloqueio e não da possibilidade. Ou seja, você não pode escolher um comportamento importante pra sobreviver ou um comportamento que é importante para um todo do seu desejo na missão dois. Elimine um "vício". Uma "mania". Uma "fixação". Faça isso da maneira menos moralista possível. Se der, viole édipo. Esqueça aquele gatinho. Pense nos bilhões de gatinhos no mundo.

    Então a missão dois é: Viole algo que coagulou seu desejo. Substitua o sentimento de castração, que vai surgir, pelo prazer da masturbação ou sei lá. Não proíba a si mesmo um objeto identificado. Tenha em mente que produto (objeto-para-consumo) você está evitando, mas saiba não proibir a si mesmx um campo.

    Por exemplo: não se proíba de forma moralista de usar a internet. Apenas recuse a monopolização que ela exerce sobre seus afazeres.

    Boa sorte, queridx companheirx.
    Muita tesão em você.
    Beijokaz :*

terça-feira, 3 de junho de 2014

Capitalismo melancólico e vitória da autoprodução

    Culpar a si mesmo é consequência de ter que responsabilizar a si mesmo para atribuir valor a si mesmo em forma de mérito. O corpo organizado, inserido na linha produtiva capitalística, precisa ter na etiqueta: ingredientes, informação nutricional, ingestão diária recomendada, SAC, fabricante, preço...

    O eu ideal está eclipsado pelo ideal do eu. O ideal do eu está hipotecado à propaganda. Seja Robert Pattinson, seja a Angelina Jolie, seja Cauã Reimond ou qualquer um da Globo ou de qualquer TV. Seja o Sheldon Cooper, o desastre de vida absolutamente captado e capitalizado. Seja o Kurt Cobain ou Che Guevara. Seja Tylen Durden.

    O desejo é produzido pela oferta e a oferta é oferta do mercado. A angiotensina circula no nosso cérebro nos caminhões vermelhos da coca-cola.

    O funcionamento perfeito é: maníaco no trabalho, depressivo em casa.
    E pelo amor de Deus, que não sobre mania para
    Movimentos Sociais
    Pensamento
    Sexo

    Alguém pergunta "como desorganizar o corpo".
    Você sai de noite e produz desorganização, mas não deixa de ter órgãos.
    A vibe da produção está enraizada e nós sabemos produzir muito bem.
    Não sabemos é distribuir.

    Se deixarem que haja um ensinamento da TCC, pode ser que seja: parta do que você tem.
    Então você sai na noite e é uma máquina esquizofrênica de autoprodução constante. Use alguns elementos que você tiver. O tema pode ser "interação social". Copie e cole. Mexa um pouco. É assim que a produção intelectual funciona hoje em dia. Use o cérebro para as grandes sacadas, as grandes construções, cheias de afetos, cheias de impulsos, de saberes não-racionais. Deixe a parte de copiar para o computador.
     Alguém vai estranhar os seus novos gestos, seus novos gostos, suas novas palavras. Você copiou e colou... o sujeito Lacaniano não está mais na fala. Ele é quem produz a colagem... uma colagem virtual de parágrafos. CTRL C CTRL V.
    Isso pode ser uma potência ou um tiro no pé. Pode ser uma máquina de guerra ou o fim de qualquer possibilidade de política. Só depende da colagem que você faz e dos pontos precisos de insight, de distribuição, que você topa escrever no meio do pré-fabricado, das citações ao vivo, no social-in-vitro.

     Este é o ensinamento da Lilá.
     Fazei isso em memória de mim.