domingo, 26 de janeiro de 2014

Notchi Infeliz

   O Lobo me encontrou, meio molhadinha da chuva, atravessando o quintal da frente pra voltar pra casa. Ele tinha saído na noite. Eu vi ele sair pela janela do quarto da Koshka.

    Será que a Koshka me lê? Até minha mãe me diz que ninguém tem o direito de monopolizar meu amor. Minha mãe, onde tudo começou, até a monopolização do amor, diz isso.

    Ele saiu pela janela do quarto da Koshka naquela hora em que eu não pude suportar e nem ele. Aí ele se foi e, como ele me encontrou, agora na volta, então ele está aqui também. Isso significa que as teclas do computador vão ficar unhadas de lobo.
    Ele estava lá também quando eu brinquei com o kot e a cachorrinha da Koshka. Ele estava lá e é por isso que eu pude brincar tão bem e ficar feliz em não ser perfeita. Ele me fez ver o sangue da Koshka na parede. Isso deu medo. Mas ele queria só o amor da Koshka. Amor.
    Eu devia matar essa palavra: "amor,     a-mor". Eu devia enterrá-la com o Romeu. Mas eu amo a Koshka demais pra fazer isso. E então depois que o Lobo foi embora eu fiquei triste e deu dor de cabeça. A Koshka estava do meu lado, aquele filmezinho era bonito e eu me senti completamente bobona, fraca e a fim de abraçar a Koshka pra sempre. Mas a coisa que eu menos sei no mundo é o desejo da Koshka. Será que ela queria abraço de Lilá?

    Eu ainda estou tristinha, gente, sério. Queria muito poder abraçar a Koshka e não dá. E o Cabeça de Passarinho me disse pra fazer algo de importante por aqui e tacar fogo em alguma coisa. A única coisa que eu queria ver queimar sou eu mesma. Não quero morrer queimada.

    O Lobo estava ali quando eu fui diferente de sempre, mais ou menos imprevisível, quando eu me produzi em alguns segundos e quando eu reproduzi essa produção por outros bons momentos. Foi depois disso que ele saiu pela janela e desistiu.

    Eu fiquei ali, morrendo aos poucos, entristecendo.
    Deitei na Koshka por uns instantes e foi só naquele momentinho que eu não quis chorar. Foi só quando eu senti que ela estava perto, de um jeito miserável e insuficiente, que eu pude ter um pouquinho de paz.

    Romeu disse: "Eu sou a fome no forno."
    Esse é o amor que eu devia ter enterrado com ele.
    Quero muito dizer pra Koshka o quanto eu amo ela pela milionésima e inútil vez.
    Quero muito investir em outros amores. Que existem.

    E-      XIS-     TEM.

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