domingo, 14 de dezembro de 2014

Pela suspensão da paranoia primeva

Nos mandam aproveitar o clima de Eureka e escrever mais.

Respondemos: mais fundo no poço da descoberta.
Mais fundo no posso da descoberta.

Posso. Posso. Posso.

Id, Eu, Supereu, são máscaras científicas que psicologizam o conflito político.
São formas psicológicas de enunciar que o problema humano é um problema político que envolve necessariamente um desejo que pode fugir à racionalidade. No século XX, diga "ISSO".
Diga: há um conflito psíquico, diga em meados desse século XX.
"ISSO funciona em toda parte", diga novamente, mais adiante nesse século de araque. Diga para que seja possível enunciar que ISSO é político ainda que não seja racional. Que há loucos na pólis, ou seja, que o fato de que algo escape ao Mesmo da nossa função linguística (a identidade) não o faz deixar, por causa disso, de ser político. É político, é político, diga já no fim do século XX.

Estamos aqui no começo do século seguinte e podemos então dizer, com alguma força de vontade: ISSO, EU e SUPEREU são máscaras psicologizantes do conflito político.

EU sou o mediador de meus desejos que são proscritos.
SUPEREU há uma lei que faz com que os desejos tenham de ser agenciados com alguns cuidados. Não posso fazer tudo o que desejo. Melhor ainda se eu puder dizer: não posso desejar qualquer coisa (produzir qualquer coisa, enfim, não posso fazer qualquer coisa). Melhor ainda se o que eu fizer puder me dar alguma sensação de estar fazendo tudo o que eu queria fazer.

Melhor, muito melhor.

E então mantém-se a máquina paranóica sob a máscara neurótica: é o paranóico que goza se chupar o dedo for ter o seio da mãe novamente. Tenha o melhor ato falho: tenha o seio da mão.
O sintoma vem de um problema que não tem como resolver? Uma política a nível do consenso impossível? A Lei universal do desejo fixado. Única saída: fingir que satisfaz (ao invés de desfixar e produzir outra coisa). É que ninguém pode justificar a castração para o ISSO.

Para onde ir? Deleuze e Guattari não solucionaram isso. Não houve fórmula para um desejo não captado. Apenas fórmula racional para fazer como se o desejo fosse ainda produtivo (é uma crítica bem dura). Reich tinha a fórmula para que a neurose se transformasse numa busca pelo nirvana. Conseguir foi o mais difícil. Nós (nós) enlouqueceríamos antes.

Mas encontramos que o melhor caminho é desnaturalizar a paranoia. Repensar a validade da totalização que coloca a paranoia no início de tudo: o desejo é, a princípio, totalitário? De fato, lhe respondemos de forma totalitária (lapsei total-otária) no bico que cala. No tapa que ensina. Tudo isso faz-se como se fosse oposição dialética: cortar um falo todo-poderoso, a despeito de que tudo isso já tenha girado muito: o totalitarismo foi passado à mãe (que precisa ser castrada) e, todavia, a castração da criança sucederá esse processo: castrar-se-á a criança da mãe aos dois anos e a mãe da criança aos seis. Tudo como se o desejo da mãe fosse totalitário e o desejo da criança funcionasse por espelho.

Grande e evidente pergunta: E SE NÃO FOSSE?

Essa não é, obviamente, uma pergunta para a psicanálise, mas sim para uma etnografia das comunidades libertárias.

Para nós, basta crer que a suspensão gradativa do totalitarismo pode ser a esperança para o fim da castração sistemática.

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