domingo, 7 de dezembro de 2014

Boca, Bode e Rizoma

   Pela pirueta mortal da teorização racional mais ou menos apoiada pelas evidências, chegamos novamente a Wilhelm Reich. Quer dizer, identificamos três estratos. Mas poderíamos ver quatro, cinco, ou mil. Mas o que vale publicar é o resultado da psicanálise:

    Uma boca, que é a boca do plenamente recalcado e esquecido - nossa amnésia infantil quase completa. Ou seja, não podemos dizer quase nada a respeito.
    Depois um registro em forma de pentagrama satânico. Uma reação odiosa à afetividade que é negada (e então se supõe que tenha sido negada. É mera suposição, a menos que fosse possível suspender retroativamente o recalque.
    Por último, um rizoma, ou seja, a possibilidade de reativar a política da coisa: mil forças são mil vias e a produção é retomada de forma criativa (mas não pelo aparecimento de um sujeito furado, e sim pela mudança nas relações de poder - há espaço para sujeito no sócius -, ainda que seja preciso admitir, com Vigotsky, Freud e Lacan, a importância de um espaço para o sócius no sujeito).

   Mas eu também quero pirar um pouco aqui. Contar pra vocês: há um certo orgulho de existir agressivo, que temos resgatado. Isso não é exatamente bonito... precisamos criticar e destruir, talvez, reconstruir e começar de novo. Mas suspendemos todos os falsos movimentos que, disfarçados de revolução, estavam a reforçar estruturas superegoicas. A saber: a desconexão não me fez avançar muito... foi importante, se pá, mas não nos ajudou tanto a ter potência.

    E aí pudemos mostrar nossa tomada.
    - Ei,você, veja como quero que meu desejo encaixe no seu! - pode ser o primeiro passo para passarmos  a desejar juntxs. Mas (e me enganei muito pensando o contrário!) é preciso que os desejos separados se toquem para que possam se juntar. Nenhuma operação ascética vai fazer esse trabalho. Nenhuma-nenhuma. Agora, isso não quer dizer que você precisa ser escrotx. É só a necessidade pragmática de fazer ver a forma dada ao seu desejo ali.
    Aí há uma função da fantasia: que o desejo possa ganhar forma no modo-indivíduo para ser comunicado e compartilhado. Quanto mais você puder produzir em conjunto, menos vai precisar de fantasia, já que as coisas vão acontecer como todxs querem. A outra coisa é que pode rolar uma fantasia coletiva, mas aí temos umas utopia e uma ideologia. E isso é OK, também - mas veja que, provavelmente, os problemas que ocorriam na escalação indivíduo x grupo podem se repetir na nova divisão grupo x grupo ou grupo x natureza. Ecosoficamente, cabe tentar desejar com o planeta todo, ou com o mundo todo. E isso é, sem dúvida, um desafio à sensibilidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário