É preciso desenvolver tudo no território da racionalidade
que venho criando. É preciso explanar,
demonstrar por que relações um certo sentido é admissível. Depois transformamos
isso numa máquina de guerra através da arte. Mas primeiro isso: um diário onde
tudo é racionalizado ao extremo e temos algumas contingências mais ou menos em
conta, em medida. E aí vai:
è
Do funcionamento do símbolo de repulsão, é
preciso estabelecer algumas de suas características. Estamos totalmente
afetadxs por isso e seria mais fácil gozar pela arte antes de escrever. Ou
analisar essa “sublimação” e não uma deriva racionalizada do sentimento...
mesmo assim, prosseguimos: queremos analisar material vivo e pulsante.
a) Que seu funcionamento é mais
político do que “sublimante”. Ou (para ser sincero, devo admitir) é sublimante,
mas sem se tornar inofensivo por isso – ou perder completamente seu valor
político. Lembre-se que há uma raiva funcionando como “não preciso mais de
você”. O sentimento de abandono pode ser substituído por uma individualidade
plenamente autoafirmada: eu, eu mesmo, eu fechado, eu que sou e não preciso de
nada disso, eu que me enfureço e posso repelir tudo o que você oferece
(protótipos: leite, amor, cultura, amor, controle, amor...). Há uma projeção da
dor no Outro e, por isso, uma integração e ainda um fechamento do Eu.
b) Que Que a ofensa vem negar a
antiga relação de necessidade. Ou seja, há uma outra projeção do prazer no Eu.
Esse novo aspecto, que eu poderia chamar de narcísico, repete-se na história:
Em Rûs-Têm ele é a morte de Ela. Em Romeu, é Tyler Durden. Em Lilá, é a beleza
da mulher. No Lobo, a raiva absurda, a violação total do desejo do Outro é
introjetada novamente, e preciso pensar alguns movimentos:
I: a identificação Lilá envolve
também uma introjeção depressiva do Outro odiado. Isso permitiu odiar menos o
fora, borrar as fronteiras, trazer a multiplicidade pro jogo – desdefinir: quem
sou, quem somos? – e então o Lobo:
II: O Lobo surge como nova
ruptura paranoica. A marca de seus caninos, a marca de sua pata, tudo isso
aparece como uma divisão polar entre masculino-feminino, eu-outro, e nossa
afeição ao Eu e nosso ódio ao Outro manifesta-se sempre pelo ódio do Lobo a uma
Lilá acorrentadora. E aí a denúncia feita pelo Lobo: a atitude que introjetou o
Outro prendeu um Eu mais antigo e odioso.
Aí fico
pensando em qual posição defenderei, aquela que aparentemente acorrenta uma
figura odiosa e falsamente autossuficiente ou aquela que integra, a duras
penas, uma uta de classes que não podemos negar nem mesmo a nível do Infraego.
E a resposta é precisa ser “depressiva”, mas precisamente desse jeito:
è
Numa afirmação de que o Lobo – ou Rûs-Têm – só
pode defender a si mesmo, mas ignora multiplicidade e causa muito sofrimento a
seu redor. Ele serve, precisamente, para defender-nos da depressão quando ela é
muito esmagadora, quando abaixar a cabeça representar a morte toda, e o
tivermos que evitar.
è
Numa afirmação de que, salvo nos danos mais ou
menos propositais de sua ignorância, a
posição “depressiva” (integradora) está em defesa do todo. Ela defende posições
políticas que pode considerar, as multiplicidades todas, justamente porque sua
missão política envolve a integração, envolve compreender outros todos,
trabalhar não apenas por si (por Lobo, Lilá ou o inferno, mas por todxs que
puder – abrir espaços onde não haveria).
Tudo isso é
sua missão.
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