domingo, 14 de dezembro de 2014

Análise


É preciso desenvolver tudo no território da racionalidade que venho criando.  É preciso explanar, demonstrar por que relações um certo sentido é admissível. Depois transformamos isso numa máquina de guerra através da arte. Mas primeiro isso: um diário onde tudo é racionalizado ao extremo e temos algumas contingências mais ou menos em conta, em medida. E aí vai:
è Do funcionamento do símbolo de repulsão, é preciso estabelecer algumas de suas características. Estamos totalmente afetadxs por isso e seria mais fácil gozar pela arte antes de escrever. Ou analisar essa “sublimação” e não uma deriva racionalizada do sentimento... mesmo assim, prosseguimos: queremos analisar material vivo e pulsante.
a) Que seu funcionamento é mais político do que “sublimante”. Ou (para ser sincero, devo admitir) é sublimante, mas sem se tornar inofensivo por isso – ou perder completamente seu valor político. Lembre-se que há uma raiva funcionando como “não preciso mais de você”. O sentimento de abandono pode ser substituído por uma individualidade plenamente autoafirmada: eu, eu mesmo, eu fechado, eu que sou e não preciso de nada disso, eu que me enfureço e posso repelir tudo o que você oferece (protótipos: leite, amor, cultura, amor, controle, amor...). Há uma projeção da dor no Outro e, por isso, uma integração e ainda um fechamento do Eu.
b) Que Que a ofensa vem negar a antiga relação de necessidade. Ou seja, há uma outra projeção do prazer no Eu. Esse novo aspecto, que eu poderia chamar de narcísico, repete-se na história: Em Rûs-Têm ele é a morte de Ela. Em Romeu, é Tyler Durden. Em Lilá, é a beleza da mulher. No Lobo, a raiva absurda, a violação total do desejo do Outro é introjetada novamente, e preciso pensar alguns movimentos:
I: a identificação Lilá envolve também uma introjeção depressiva do Outro odiado. Isso permitiu odiar menos o fora, borrar as fronteiras, trazer a multiplicidade pro jogo – desdefinir: quem sou, quem somos? – e então o Lobo:
II: O Lobo surge como nova ruptura paranoica. A marca de seus caninos, a marca de sua pata, tudo isso aparece como uma divisão polar entre masculino-feminino, eu-outro, e nossa afeição ao Eu e nosso ódio ao Outro manifesta-se sempre pelo ódio do Lobo a uma Lilá acorrentadora. E aí a denúncia feita pelo Lobo: a atitude que introjetou o Outro prendeu um Eu mais antigo e odioso.
                Aí fico pensando em qual posição defenderei, aquela que aparentemente acorrenta uma figura odiosa e falsamente autossuficiente ou aquela que integra, a duras penas, uma uta de classes que não podemos negar nem mesmo a nível do Infraego. E a resposta é precisa ser “depressiva”, mas precisamente desse jeito:
è Numa afirmação de que o Lobo – ou Rûs-Têm – só pode defender a si mesmo, mas ignora multiplicidade e causa muito sofrimento a seu redor. Ele serve, precisamente, para defender-nos da depressão quando ela é muito esmagadora, quando abaixar a cabeça representar a morte toda, e o tivermos que evitar.
è Numa afirmação de que, salvo nos danos mais ou menos propositais de sua ignorância,  a posição “depressiva” (integradora) está em defesa do todo. Ela defende posições políticas que pode considerar, as multiplicidades todas, justamente porque sua missão política envolve a integração, envolve compreender outros todos, trabalhar não apenas por si (por Lobo, Lilá ou o inferno, mas por todxs que puder – abrir espaços onde não haveria).


Tudo isso é sua missão.

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