quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Abraço e tantas outras coisas.

    Este texto é pra ser abraçado.

    Às pessoas que tem nos abraçado, gostaríamos de agradecer, tem sido bom. Temos até uma poesia, mas isso é pra ser um modo de enxergarem nossa beleza¹, então pretendemos aprender a declamá-la belamente.
    Ir a uma festa não é mais estranho... porque aceitamos que elas não são o oposto da solidão. Uma festa não é, definitivamente, um local de encontro, se você não se permitir dançar com o vento e com as estrelas, com a noite e com os insetos².
    E então, mesmo dançando com estrelas e ventos, com o mato, com a terra, mesmo assim, você pode se apaixonar por esses humanos ao redor, esses que dançam entre si.
    E abraçá-los, você também pode.
    E pode achar estranho... "nossa, como eu não soube abraçar este humano" - nessa hora, você vai abraçá-lo novamente e então aprender a abraçá-lo, e vai se sentir bem por isso.
    E você pode até dizer "agora eu sei te abraçar". O humano pode achar isso interessante, especialmente se ele tiver um pouco e vento e insetos dentro de si³.

    Então queremos um novo abraço.

    O exercício de entregar-se completamente a si mesmo, experimentar o próprio corpo, sentir. Também sentir o vento ao redor. Sentir o ar, o cheiro, o calor ou o frio (ou outra coisa), sentir o tato, sentir os sentidos que os insetos sentem, uma vibração em nossas anteninhas ou qualquer coisa assim...
    Podemos sentir outras coisas, antes, depois, durante, ou n'outro momento... sempre paramos e sentimos, antes de comer a comida. É como uma oração para o mundo. Uma oração antes da refeição em homenagem "ao processo". Tudo isso que vem acontecendo.

    Uma entrega... esse é o abraço... mas não é uma transferência de mais-valia, não é posse privada, capital filiado mudando de papai, não é isso. É disposição de um vivo, esse vivo que somos e que mora em nós e no qual moramos, esse vivo que pulsa, que repuxa, encolhe e solta (e tantas outras coisas!), isso que devimos: disposição para experimentar o processo, o mundo, outros vivos, outras terras, fogos, estrelas, águas, mares, chuvas, árvores, outros humanos, outras humanidades, bichos de todas as cores, formas, de todas as forças, as montanhas-de-tudo que por tudo estão espalhadas.

   Esse é o abraço, e depois não é, e depois é e não é, e depois outra coisa que não é nem ser, nem não ser, nem entre. 
   E tantas outras coisas.


NOTAS (não leia se você ama):

1: instrumento de mais-valia de código, já que é assim que experimentam o amor. Isso funciona assim porque as pessoas (incluindo, provisoriamente - como numa análise de conjuntura - nós) buscam encontros com equivalentes gerais e não com novos absolutos. Nesse sentido é que, como disse a Água, ficam julgando nossos olhares (olhar tem um "ato imanente" de escolha num supermercado de pessoas equivalentes a Mamãe ou Papai).
2: ao invés de dançar com os caretas ou com os diferentes, os dois pólos da existência no mercado afetivo de equivalência.  Se você dançar com os caretas, estará num jogo muito velho, tão velho que você pode enguiçar, enferrujar. Mas se você dançar com os diferentes, então você vai ter que ser como eles. Há um equivalente geral que compara os diferentes para escolher o melhor em termos de diferença. Esse é o paradoxo dos "diferentes".
3: Quanto mais "devir" houver na categoria do equivalente geral, menos as coisas vão ser difíceis nesse ponto. Os humanos com mais devir nessa categoria podem aceitar mais devir no mundo.

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