sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Re Tomos

   I

   Pelo dia de ontem e pelo de hoje, pela semana que passou e pelo que passa em minha cabeça há algumas semanas, talvez num certo acúmulo desde o mês passado ou há alguns anos. É por isso que passo a escrever isto e a pensar numa subjetivação que se constrói e desconstrói intencionalmente a partir  ou através de (ou mais precisamente junto a) alguns discursos. Pelo que aconteceu nu verão que separou os anos de 2011 e 2012, igualmente, que, se fosse descrito por extenso, tornaria irônico estar novamente aqui, no interior da Faculdade de Direito. Também porque hoje, ao olhar-me no espelho, no banheiro deste prédio, percebi que estou mais estrábico do que há dois anos atrás. E também porque corrigi momentaneamente o desvio angular de meus olhos por um exercício de intenção.
   Tomar como  problema o desejo e o processo de subjetivação do ser humano contemporâneo é o avanço epistemológico oferecido pela psicanálise. Aprofundar ou reaprofundar esse avanço é trabalho de freudianos como Reich e Lacan. Para além dos problemas que cada ser social (ou devir - dane-se) enxerga ou recorta de si mesmo - a criação alardeada do inconsciente. Para além dos problemas que o status quo é capaz de denunciar em benefício da própria produtividade (reprodução), num processo de franca ruptura ética, tanto com o indivíduo quanto com a organização social hegemônica, a mais ou menos insuspeitada inspiração do infraego. Num potente romance, os corações corajosos de não muitos - ou, quem sabe, de milhares muito silenciosos - entusiastas, uma preocupação com a técnica revolucionária, com a maquinaria que produz e muda a realidade.

   Entre a reprodução da desigualdade, do sofrimento e da opressão, e a afirmação revolucionária do poder popular e minoritário, a diferença parece ser de consequência, não de origem. A contradição marcante entre o que desejo e o que desejo desejar, minha própria implicação, profunda e dolorosa, nesse problema.
   Ainda, o que enxergo: a implicação de todo desejo revolucionário em máquinas de reprodução capitalísticas, a necessidade e a possibilidade de ruptura em todo encontro.

   II

   Uma situação da psicanálise na franqueza da invenção de seus objetos (o inconsciente à americana? o desejo à francesa?). O que quer que seja: algo entre o comportamento (do corpo) - tomado sob o nome, algo obscuro, de pulsão -, a situação do humano no discurso (em juízo e projeto) - Sujeito no Eu, e no Ideal do Eu, e essa fábrica de pessoinhas que foi chamada, como tanto se deseja - para produzir indivíduos de pleno livre-arbítrio -, de Outro. Ali, algum campo para intervir: ao lado de cada sujeito, guiada por um conhecimento (epistemologicamente rebelde) das farsas da subjetivação contemporânea, uma caminhada que é preciso saber fazer (para sobreviver) e em que cada vitória (imagem do analisante ou do analista, tanto faz) será convenientemente atribuída ao processo analítico.
    Depois de toda essa especulação, hora de ler - e boa noite a você que talvez tenha lido.

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