sábado, 11 de junho de 2016

Uma anotação neste dia de apaixonamento.

    Eis portanto o dia que decretamos ser o dos apaixonados, não sem receio, substituindo o que não somos pelo que sentimos. À música da Tulipa Ruiz que ouvimos juntas, devo responder com seu próprio título ("Só sei dançar com você") --- as outras músicas desse álbum agora pareciam ecoar e ocupar precisamente a parte do pensamento que eu precisava livre para concentrar-me.
    Mas agora senti que do vazio por elas deixado não surgiu o que eu queria escrever. Fiquei pensando "o que seria...?"
    Posso escrever minha vontade de encher de carinhos a minha querida companheira de cafés, neste momento tão frio da madrugada... e eis o não-sono, que sentimos tantas vezes, e que só pude abandonar em nome de minhas Outras tarefas. O sono, disse meu professor Manoel, é um momento de parar de gozar --- o que, apesar de nada surpreendente, é importante do ponto de vista simbólico: dormir é mesmo deixar o corpo descansar dos seus afazeres; não passivamente, como um tanque enche-se de gasolina, mas sim pelo aval visceral que é necessário para que um corpo humano deixe-se descansar. Para dormir, é preciso, de alguma forma, dizer: "eu não quero mais gozar" --- ou, até mesmo, "eu posso não gozar".
    Chegamos em casa após o absurdo de gozos que foi o show da banda Surra (e outras bandas). Sobre isso devo parabenizar a todos os envolvidos e as envolvidas, e talvez principalmente a quem arremessava-se com tanta convicção sobre os corpos, imergindo desde o palco. Mas o que quero dizer é que, como em nossas noites de não-dormir, chego agora ao embate entre o descanso e a vontade de seguir acariciando-lhe as costas, enchendo cada centímetro de sua pele dos meus melhores mimos, e falando o que quer que seja desta vontade, baixinho, em seus ouvidos; ou, de cabeça vazia, olhar em seus olhos, só conseguindo sorrir em silêncio...
      Beijocas em você, querida companheira de café, caso leias este texto, pois deixá-las aqui guardadas é meu requisito para poder, em seguida, deixar cair meu corpo na cama. O sono me levará --- em suas próprias imagens ou pela energia que terei amanhã --- a encontrar-te novamente, pra que realizemos alguns dos motivos que, no fim das contas, nos salvam de simplesmente nos deixar dormir, eternamente.

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