sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Última Oração

    Eu queria estar lendo agora, já estar lendo, mas algumas coisas estão acontecendo e sinto que preciso partir numa aventura de "agora-ou-nunca" para reaver meus amigos (xs velhxs druguis!) das mãos do fetichismo capitalístico e do Édipo.

    Pessoas que, comigo, começaram uma banda. Um grupo. Um conjunto. Quero dizer: um coletivo, no sentido mais revolucionário que a "pequena burguesia" pode enunciar. 

    Era a "notchi" dos irmãos.
    Toda sexta à noite, ou sábado à noite. Todo feriado. Toda vez que nos deixávamos destruir tudo, faltar aula. Quase sempre, ou mesmo sempre e toda a vez: a estávamos nós, juntxs, reunidxs, desejando e nos tornando, a cada instante, um grupo, um coletivo, um "algo de especial" que excedia as formas de pensar, as racionalidades.
    Nenhuma análise reichiana "a quente" poderia descrever o que éramos - havia, é claro, na mistura, um pouco de Reich, um puco anarquismo 'lifestyle', um pouco de Yoga, um pouco disso que o Romeu trazia - mas haviam, sobretudo, desejos em plena reorganização... descobrir o sexo e libertá-lo ao mesmo tempo, descobrir o amor como ele mais é 'na verdade' - que não tem NADA a ver com aquilo que o idiota do Romeu chamava de "Idîn"¹ - e operar de forma revolucionária com ele: desejo livre, na medida do possível, anti-edipando-nos, mexendo onde precisávamos ter mexido tanto mais.
    Vivemos juntos a "sociedade da latência", aquilo que está entre nosso período de vida no triângulo familiar e o período em que adentramos seu 'substituto em larga escala', que é o estatismo bosta da classe-média-tanto-faz (ou mesmo da burguesia filha da puta, para alguns de nós).

    O que acontece é que Romeu falhou em sua missão de reichiano, a essa época.
    Falhou graças à forma de afeto que matinha em si: afeto babaquinha, amorzinho, queridinho, ninininho, ninininho... E fodemos a banda nessas, fodemos nossa coletividade foda, a mais foda que eu já conheci afetivamente.

    De qualquer forma, o que importa não é isso. Não quero reviver a sociedade dos irmãos, o nosso totemismo na casa de Deus (quem lembra quem era Deus?).

    Eu só queria era reativar em vocês, meus caros amigos, a possibilidade de evitar três coisas esdrúxulas:
  • A vida tirana da 'não-política', que não se importa em ter dinheiro, ter possibilidades, ter recursos, ter alegria, e ver a maior parte da população desse capitalismo mundial integrado trabalhando caralhescamente, sofrendo pra caralho, e achar que não se tem nada a ver com isso.
  • A vida no presumido, no proposto, no esperado: um desperdício repetitivo que somos incumbidos de reproduzir pra nós mesmos como se fosse grande coisa. Ser papai, ser mamãe, ter um emprego de papai-mamãe, ter uma familiazinha, falar merda pro filhinho, deixar 'os pobres' no escombro, revirando as latas de lixo da nossa família rica ou aburguesada.
  • A vida amarga, que é a vida podre daquilo que jamais foi renovado. A vida engolindo o lixo podre que pra todos nós e por todos nós é podruzido. A vida no casamento e na riqueza, dos itens anteriores, só que agora percebendo que ela é RUIM. Que o prazer em andar sobre as cabeças dos outros uma hora perde a graça. Que a vida não reflexiva nos transforma, no fundo, em seres fracos, que sucumbirão à neurose ou à perversão, ao autismo do capital, à morte lenta, morte voluntária pelo 'trabalho honesto', gerindo os bens (e os males) que herdamos de nossos pais.
          Abraços da Lilá <3


        Nota:

1: Ah... queridxs amigxs, sinto dizer, mas acho que foi o Romeu mesmo que destruiu a Banda. Quer dizer, foi o Romeu que introduziu, com "Idîn", a maior dose de edipianização escrota na coisa... ele que fez as coisas se maquinarem com base na 'falta' e, até mesmo, produziu este blog como uma expressão dessa falta, simplesmente porque ele não aguentara a potência que a máquina revolucionária reichiana tinha em sua vida naquele momento e então voltara às raízes: papai-mamãe-ego-falo.

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