domingo, 16 de março de 2014

Lua Cheia: Máscara

    A Lilá quer que eu escreva, mas é Lua Cheia e eu não quero escrever.
   A você que me lê: escrever é o que resta a um lobo na coleira. Saiba disso.

   A Lilá era a máscara e então aproximava-se o vetor de nosso desejo.
   A Lilá tinha "vontade". Isso significa que ela combatia o desejo. Ela tinha vontade de "afundar" na menina pra não nos deixar fazer o que eu queria. 
    Isso, por sua vez, significa que a Lilá queria abracinho e queria palavrinhas e queria acabar chorando no ombro.
    Eu queria o acasalamento.

    Entenderam? Quer dizer... "querer" é uma palavra social-democrata.
    Queremos almoço e queremos abraço, mas também queremos morrer. Quer dizer que desejamos almoço e abraço e temos vontade de morrer.
    Mas eu achei que pararíamos com as rupturas esquizo-paranoides. Nem sei por que isso é importante. Só não sei lidar com isso que a Lilá quer colocar pra fora. Acho que é um resíduo... e eu espero francamente (de verdade) que seja um cadáver. Aliás, dois cadáver. Aliás, três cadáveres. Quatro.

    Desejo quatro mortes, quatro destruições, e isso pode acontecer com sangue ou se a etiqueta for rasgada porque realmente não funciona mais. Mas o segundo jeito é duvidoso e, pra funcionar, será preciso confiar no humano que surgiria de minha suposta impotência: um que pode construir dispositivos que funcionam com aquela precisão que é impossível de registrar. Não sei se esse humano já existe. Por enquanto, ainda sou só eu lidando com as impotências da Lilá.

    A menina nos etiquetou e disso eu nem preciso falar muito. É obvio e acontece assim o tempo todo. Mas é interessante registrar quando acontece, acontece, acontece...

    "Cachorro mau!" 

(isso significa que, no mercado de cães, temos o valor do desejo das pessoas por um cachorro, descontando-se a vontade delas de evitar alguém que questione sua ordem);

    Antes de nos etiquetar, ela estava conversando conosco de muito-muito perto. No dia seguinte ela não lembrava dessa parte e nos evitou um pouco, mas nós havíamos sentido seu hálito muito perto do nosso.

    O único problema foi que o resultado da soma [desejo + (vontade)] não foi muito positivo. Quer dizer, foi o suficiente pra vencermos um pouco a vontade que a Lilá tem de se aprisionar, mas não o suficiente pra calar a sua vontade de perdoar as coisas que não precisam de perdão.

    Então ela perdoou. Mas eu não perdoo.
    E este texto não repara nada.

    implacável (Lua Cheia) + (-domesticação) =

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