sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Lua Cheia: Antídoto

     Acordo e apago a luz; Apago pactos, promessas, juramentos, palavras de ordem. Apago mentiras, apago o veneno quente que se inocula nos corações jovens.

     Minha cabeça dói, lateja neste escuro.

     "O que é que me faz querer viver?" — penso.
     Então há uma única luz, uma chama, à minha frente. Seu movimento é sutil da dança do fogo e eu sei que ele apaga assim que eu fechar os olhos.

     Eles estão abertos.

    "Nenhum dos nomes que carrego pode me salvar" — E volto ao escuro. E minha cabeça ainda dói, mas na verdade não importa.
     Há uma razão pela qual não posso morrer.

    Posso ver. Ao meu lado há uma estátua; é a nova estátua. Ela é grande e aos seus pés está escrito o nome que eu lhe dei diante do homens. É a estátua de um antídoto.

    "Anti-amor".

    Saí na noite e então a Lilá achou que devia ficar triste por ter sido culpada por uma coisinha que aconteceu. Bem, o que importa pra vocês é que fomos culpadxs por um erro que a Lilá admitiu e que tentou reparar, mas não pode. A tolinha da Lilá ficou magoada porque ela desejou aquele gatinho e agora ele estava brabo conosco. Eu quase fiquei triste, mas então me lembrei que não sou um cachorro.

    EU SOU O LOBO.

   Atravessado por isso eu quero fazer Filosofia de Lua. Vou falar sobre autorresponsabilização e responsabilização-culpa. O Romeu ia falar sobre isso antes de morrer. Tenho o rascunho dele aqui, mas nem vou ler.

     O Romeu que se foda no inferno.

    Ele ia criar uma ruptura esquizo-paranóide entre responsavilização e culpa. Bom, minha "esqizo-paranóia" eu resumi na separação entre mim e a Lilá. Não preciso de outras.
    Então eu posso dizer que responsabilização e culpa são essencialmente a mesma coisa ("problematizações" ou "atribuições causais" ao campo da psique). O que acontece é que, ao falar em autorresponsabilização, eu estarei falando de uma projeção causal desse tipo que é (predominantemente, pelo menos) sentida como "livre", como "escolhida" pelo sujeito. Inversamente, ao falar de culpa estarei falando de um movimento que, em geral, "pressiona" a psique, é sentido como pesado, forçado, doloroso e, predominantemente, como proveniente "dx(s) outrx(s)".

    Quanto ao ato de responsabilização — que dizemos ser a projeção causal na (numa) psique, no "ser", que caracteriza tanto a autorresponsabilização quanto a responsabilização-culpa — quero dizer, por último (porque já estou me alongando):

a) Que é um movimento que, em nosso ponto de vista (pelo menos o meu e o da Lilá, rs) só é concebível como um movimento psíquico, visto que enxergamos todo problema como um campo de análise-intervenção escolhido pelo sujeito e com o qual este está implicado, e nesse sentido, somos deterministas radicais, cremos que a procura da origem dos "problemas" enquanto jogos de causa-efeito e modulações, etc. nos levaria a uma regressão infinita ao impensável.
b) Que o movimento de responsabilização funciona especialmente para mobilizar os sujeitos a gerar mudanças "a partir de si" (ou seja, para que os sujeitos, ao se responsabilizar, ou ao se colocar como "causadores", como "culpados", problematizem a si mesmos e a seus campos de intervenção no sentido de produzir mudanças, "melhorar").

Cabe investigar a quem/a que lógica serem as diversas utilizações (culpa, autorresponsabilização...) deste movimento.

Lambida!

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